Como formar o discípulo missionário? Esse foi o questionamento que permeou as reflexões do 4ª Congresso Missionário Nacional que aconteceu entre os dias 7 e 10 de setembro, em Recife (PE). Com o tema ‘A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída’, o evento serviu ainda para impulsionar as Igrejas no Brasil para um dinamismo de saída.
O Congresso teve a intenção de integrar das forças missionárias através do incentivo à cooperação intereclesial . A missão contou com a participação de representantes do Regional Nordeste IV. De acordo com Erika Rossana, que integra coordenação da Infância e Adolescência Missionária (IAM), mais de 40 delegados do regional NE4 participaram do Congresso, representando as cidades de Picos, São Raimundo Nonato, Teresina e Parnaíba. “O bispo da diocese de São Raimundo Nonato, Dom Eduardo Zielski foi o responsável pela missão e o mesmo integrou a caravana, acompanhado de leigos, padres e demais membros da nossa Igreja”, disse.
A metodologia do Congresso girou em torno de quatro palavras inspiradoras, uma para cada dia do evento: encontrar, contemplar, discernir e propor. A temática teve três eixos: a Alegria do Evangelho; Sinodalidade e comunhão; Testemunho e profetismo. Além disso, “Igreja em saída na perspectiva ad gentes” que foi o eixo transversal.
“Vivenciamos com representantes de todo o Brasil o Congresso Missionário Nacional onde participamos de Conferências e oficinas para estudar os documentos como o Ad Gentes, Evangeli Galdium e o documento que trata do tema da Campanha Missionária 2017- A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, disse satisfeita.
Ainda na programação , ocorreram quatro grandes conferências com o desdobramento das reflexões em mais 30 oficinas. O 4º CMN está em sintonia com a caminhada missionária da Igreja e serve de preparação do Brasil ao 5º Congresso Missionário Americano (CAM 5), a ser realizado nos dias 11 a 15 de julho de 2018, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia).
E os participantes do 4º Congresso Missionário Nacional aprovaram no final do evento, uma mensagem enviada às Comunidades eclesiais do Brasil. Na mensagem, os congressistas reafirmam o compromisso com uma Igreja sinodal, de comunhão e em saída, que leva a alegria do Evangelho a todos os povos.
MENSAGEM DO 4º CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL
ÀS COMUNIDADES ECLESIAIS DO BRASIL
Vocês serão minhas testemunhas até os confins da terra (cf. At 1,8).
Reunidos no 4º Congresso Missionário Nacional, de 7 a 10 de setembro de 2017, no Colégio Damas, em Recife (PE), nós, os 700 missionários e missionárias, vindos de todas as regiões do Brasil, fomos fortemente desafiados a testemunhar “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”. A Arquidiocese de Olinda e Recife, com calorosa e fraterna acolhida, levou nosso Congresso para as ruas, antes mesmo de ele ser aberto, com a realização da Semana Missionária, nos seus oito vicariatos, atitude pioneira que enriqueceu nosso encontro. Seremos sempre agradecidos a esta Arquidiocese pela generosidade e disponibilidade que nos dispensou, nesses dias, no autêntico espírito de serviço amoroso e gratuito.
Aprendemos com o Papa Francisco que “a alegria é o bilhete de identidade do cristão”. Essa alegria foi o espírito que marcou os quatro dias em que estivemos juntos. Ela nasce do Evangelho que liberta e salva; expressa-se na sinodalidade e na comunhão que impulsionam a vida e a missão da Igreja; anima o testemunho e o profetismo que, a partir da cruz de Cristo, apontam para o nosso compromisso de discípulos missionários e missionárias.
Contemplar a realidade com o olhar de discípulo missionário
O exemplo dos mártires e profetas, como Dom Helder Câmara, ajudou-nos a olhar para o Brasil, mergulhado numa profunda crise que fere, no coração e na alma, a nós e a tantos irmãos e irmãs empobrecidos, excluídos e descartados.
Como se estivesse anestesiada, a população brasileira assiste ao fortalecimento de políticas neoliberais que retiram direitos e agravam a situação dos trabalhadores/as, dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores e dos que vivem em outras periferias geográficas e existenciais. As reformas trabalhista, previdenciária, política e da educação, bem como a retomada das privatizações mostram que o governo e o Congresso Nacional viraram as costas ao povo. A corrupção e a falta de ética, que atingem tanto a classe política, quanto empresarial e outros setores da sociedade, têm levado o desencanto e a desesperança aos brasileiros e brasileiras.
Causam-nos indignação a devastação da Amazônia, a degradação da natureza e a violência que ceifa a vida de lideranças, como o assassinato do casal Terezinha Rios Pedrosa e Aloísio da Silva Lara, ocorrido no Mato Grosso nesta semana, e o massacre de indígenas, em agosto deste ano, no Vale do Javari, Amazonas, divulgado enquanto acontecia o Congresso. O decreto do governo que extingue a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) é um duro golpe nos direitos dos povos indígenas e no bioma amazônico.
Essa realidade, longe de nos desanimar, cobra-nos uma ação missionária vigorosa, transformadora, libertadora. Revigorados pelo espírito da Conferência de Medellín que, há 50 anos, deu à Igreja Latino-americana o rosto de uma Igreja em saída, pobre, missionária e pascal, somos motivados a vencer a tentação da indiferença, do comodismo, do desencanto, do desânimo e do clericalismo presentes em muitas de nossas comunidades. Somos guiados pela fé e pela esperança cristãs capazes de reacender, no coração de todos, a chama do amor pela vida, pela justiça e pela paz.
Discernir os caminhos da missão que gera alegria
A palavra de Deus é luz, sabedoria e força que nos tornam discípulos missionários e missionárias ousados e criativos, mais capazes de colaborar com a transformação de estruturas caducas e a construção de uma nova sociedade, que seja sinal do Reino de Deus em nosso meio. Os documentos da Igreja são também fonte salutar que nos ajudam a compreender melhor a natureza missionária da Igreja. Nesse particular, destacamos as palavras e gestos do Papa Francisco, base do conteúdo deste Congresso. É surpreendente como ele se coloca à nossa frente, a passos largos e rápidos. Ele é, verdadeiramente, um profeta missionário que nos anima na caminhada.
A missão constitui verdadeiro kairòs, tempo propício de salvação na história. Somos provocados a sair de nós mesmos, deixar nossa terra, tirar as sandálias para “pisar” o solo sagrado do outro, como hóspedes, aqui e além-fronteiras. A proximidade e a reciprocidade levam ao encontro com o outro que faz contemplar o horizonte escatológico do Reino de Deus.
Na missão, animam-nos o testemunho e o profetismo de tantas mulheres e homens que encontraram sua alegria no Evangelho e a partilharam com os prediletos de Deus na radicalidade da doação de sua vida. Os profetas e mártires são exemplo de coragem e de fidelidade a Cristo e ao Evangelho até o extremo de entregar a própria vida: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Sustentados pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, os missionários e missionárias têm, hoje e sempre, a responsabilidade de não deixar morrer a profecia, lembrando que “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.
Na missão, Aquele que chama e envia, bem como a mensagem enviada e seu destinatário são maiores que o enviado, isto é, o missionário. Sem este, no entanto, não há quem seja enviado e a mensagem do amor de Deus não chega a seus destinatários. O missionário, porém, só cumpre autenticamente a missão se caminhar junto com outros missionários, vencendo a tentação do monopólio da Boa Nova, reconhecendo a riqueza da unidade na diversidade e ultrapassando os estreitos limites da Igreja particular para lançar-se ao mundo. No cumprimento da missão, os evangelizadores se lembrem de que sua alegria não está nos prodígios que possam realizar, no sucesso que venham a alcançar, mas em saber que seus nomes estarão inscritos na “memória afetiva de Deus” por terem sido fieis mensageiros do Evangelho (cf. Lc 10,17-20).
Comprometer-se com Jesus Cristo e o Reino de Deus para uma Igreja em saída
O 4º Congresso Missionário Nacional foi o encontro de irmãs e irmãos que partilharam sua fé, suas lutas, suas angústias, seus sonhos, suas esperanças. Durante todo o tempo, sentimos agir em nós o Espírito Santo, protagonista da missão, reforçando nossa convicção de que ser missionário é uma graça e uma responsabilidade. Por isso, renovamos nosso compromisso com a Infância e Adolescência Missionária e com a Juventude Missionária, em união com as demais expressões juvenis, a fim de que crianças, adolescentes e jovens sejam protagonistas da missão onde quer que estejam.
Reafirmamos a vocação dos cristãos leigos e leigas como sujeitos na missão. Confirmamos o testemunho das consagradas e consagrados, dos seminaristas, dos ministros ordenados – diáconos, padres e bispos – que cada vez mais assumem a missão como resposta ao chamado de Deus. Impulsionados pela Santíssima Trindade, viveremos esta nossa vocação na sinodalidade e na comunhão, comprometidos com a Igreja em saída que promove o encontro e anuncia a alegria do Evangelho a todos. Assumimos a tarefa de apostar, cada vez mais, nos espaços que nos ajudam a ser uma Igreja sinodal, fortalecendo os organismos e conselhos missionários em todas as instâncias.
Para a vivência da missionariedade é imprescindível a atitude da escuta. Contribui para isso a formação missionária contínua que alimenta nossa espiritualidade, cria a cultura da missão e contribui para que todos os batizados assumam sua vocação missionária. Assim, onde estivermos iremos ecoar o refrão que ficou gravado em nossos corações: “Tudo com missão, nada sem missão”.
Deixemos arder em nosso peito o apelo do Papa Francisco: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! (…) Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG, 49).
Maria, Mãe Aparecida, comunicadora da alegria do Evangelho, caminhe conosco!
Recife, 10 de setembro de 2017
Participantes do 4º Congresso Missionário Nacional.
Com informações do site a12
Por Vera Alice Brandão