Com o objetivo de valorizar a cultura e a identidade da comunidade surda, Teresina sedia desde o último dia 24 de setembro a II Semana do Orgulho Surdo. Os aspectos do movimento que visam dar ampliação para a difusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) motiva também o movimento Setembro Azul, que é o Mês do Orgulho Surdo em todo o País. Por isso, uma vasta programação (que segue até o dia 29) acontece no Centro Pastoral Paulo VI e em outros pontos da capital e pretende dar maior visibilidade às políticas de melhoria para os surdos.
A proposta do Setembro Azul quer promover amplas discussões de temáticas com foco na causa dessas minorias, além de estimular o diálogo em torno de assuntos relevantes que nem sempre conseguem o merecido reconhecimento, tudo isso somado ao apoio de outras organizações, é o que relata Marcos Júnior que coordena o serviço ‘Levanta-te, Vem para o meio’. Este serviço contribui via ASA – Ação Social Arquidiocesana, no auxílio e assistência à comunidade surda.
“Somos uma grande parceira da comunidade através do serviço de atendimento ao público com deficiência: o S.A.S – Serviço de Atendimento ao Surdo. A iniciativa conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Teresina e oferta à comunidade surda um acompanhamento de intérpretes de libras. Estes profissionais auxiliam os deficientes no acesso a serviços socioassistenciais, jurídicos, saúde, entre outros.
Mas as carências são muitas, acrescenta Marcos. “Há uma infinidade de dificuldades que infelizmente os nossos serviços não conseguem suprir. A deficiência está nas escolas – que não contratam intérpretes de Libras para seus alunos – e nas universidades, que não disponibilizam as aulas online em formato acessível. A deficiência está nas empresas, que evitam contratar surdos por conta das dificuldades de comunicação e não cumprem a Lei de Cotas. A deficiência está nos sites da internet, que estão offline para a comunidade surda por só estarem disponíveis em português. A deficiência está em tudo o que a gente faz e que impede as pessoas surdas de aprenderem, consumirem e se divertirem. E é por isso que um momento de diálogo como esse existe. Para pedir por essas carências”, revela lamentando.
E é na tentativa de levantar essas bandeiras que a ‘Semana do Orgulho Surdo’ prevê a realização de seminários, palestras, apresentações teatrais, passeatas, audiências públicas, exposições e uma caminhada. “Tudo com o objetivo de buscar o apoio da sociedade e de demais órgãos responsáveis por garantir esses direitos”, reforça a presidente da Associação dos Surdos de Teresina (ASTE) Iasmim Carla Souza.
“Esse ano a semana vai valorizar, com olhar especial, a garantia dos nossos direitos. Como se sabe, crianças e jovens carentes sofrem enormes dificuldades quanto ao ensino e profissionalização. Logo, é fácil concluir que, em se tratando de surdos, o problema é potencializado. E não havendo atenção e cobrança por parte da sociedade, é possível que o poder público não dedique a atenção necessária, como de costume”, relata a presidente.
Conforme censo realizado pelo IBGE em 2010, aproximadamente 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva (DA), o que representa 5,1% da população brasileira. Por sua vez, a Organização Mundial de Saúde apurou em 2011 que 28 milhões de brasileiros sofrem de algum tipo de problema auditivo.
Para a psicóloga Natália Andrade que integra a equipe do serviço S.A.S há avanços consideráveis na legislação brasileira como a inclusão da Libras como disciplina curricular: formação do professor de Libras e do instrutor de Libras; uso e difusão da Libras e da língua portuguesa para o acesso das pessoas surdas à educação; formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa. E havendo determinação legal, deve ser uma garantia. Mas, se os órgãos públicos não possuem estrutura ou condições para garantir a efetividade desses direitos , torna-se impreterível que a sociedade aponte e cobre os responsáveis”, orientou em sua palestra durante programação dessa manhã (27).
Então a grande defesa da comunidade é que o uso da língua de sinais deva ser cada vez mais reconhecido como caminho necessário para uma efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento dos alunos portadores de deficiência auditiva. “Não podendo ser ignorado pela escola no processo de ensino e aprendizagem do educando, se constituindo em um alicerce para sua comunicação”, defende Iasmim Carla Souza.
A programação de amanhã (28) oferta um momento de entretenimento com a realização da III Feijoada dos dia do Surdo no Clube Social dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Piauí, a partir das 8h. No sábado (29) acontece o encerramento da Semana com a realização da II Caminhada do orgulho Surdo. O local de concentração é o supermercado Bompreço e o destino final é o Parque Potycabana.
Outras informações:
De acordo com o calendário, o dia do Surdo é celebrado em 26 de setembro, porque nesta data aconteceu um marco histórico importante – é a data que foi fundada a primeira escola de surdos no Brasil, o atual INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos, localizado no Rio de Janeiro.
A cor azul foi escolhida para representar o “Orgulho Surdo” como forma de prestar homenagem a todos os que morreram depois de serem classificados como surdos, durante o nazismo alemão e a opressão enfrentada pelos surdos na atualidade.
Para mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos pela ASTE acesse face book: ASTE e Instagran : asteoficial. O telefone para contato é o (86) 99808-5324.
Por Vera Alice Brandão