Desde pequeno, quando ainda criança, ouvia os mais velhos, ao se referirem a Semana Santa, chamarem os dias do Tríduo Pascal como “dias grandes”. Alguns, por desprezo e chacota, ironizavam dizendo que os dias da Semana Santa eram iguais aos demais dias do ano e que neles não havia grandeza, pois suas horas eram as mesmas 24 horas dos demais dias.
Em sentido objetivo, estes tinham razão. As horas dos dias da Semana Santa são as mesmas dos demais dias do ano. No entanto, a grandeza da Semana Santa e, sobretudo do Tríduo Pascal, não reside na sua cronologia, mas no Mistério que ela faz memória.
Qual o grande Mistério da Semana Santa? A celebração do todo que é a Páscoa de Cristo: a vida doada, a entrega generosa na cruz, a ressurreição e ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Há algo maior do que revisitar este dado fundante da fé cristã? Creio que não! Tudo na vida litúrgica da Igreja dependerá desse grande e nobre Mistério: todas as celebrações, festas litúrgicas e sacramentos estão intrinsecamente implicados a esta realidade Pascal.
Cabe ainda dizer que a grandeza do Mistério celebrado na Semana Santa não se faz a cada ano por mero ritualismo ou tradicionalismo. Não celebramos um teatro. Nossa fé não é teatral! O conceito de memorial ajuda a entender isso. “No contexto bíblico, litúrgico, teológico, memorial é muito mais; é uma instituição estabelecida por Deus que nos reporta ao passado, dá sentido ao presente e nos abre para o futuro” (O Conceito Bíblico de Memorial. Disponível em http://teologicalatinoamericana.com).
Portanto, todas as vezes que celebramos o Mistério Pascal, atualizamos no nosso hoje aquele que foi o único e irrepetível sacrifício de Cristo. Regressamos, não fisicamente, mas com os pés da nossa fé ao sinal profético que foi a última ceia, vimos este sinal se tornar cognoscível quando efetivada a entrega do corpo e sangue de Cristo no lenho da Cruz, choramos e nos angustiamos com os discípulos a morte de Cristo, tomamos o manto do luto e nos preparamos para ungir o corpo do Senhor e testemunhamos, junto das mulheres e dos demais discípulos a Ressurreição do Senhor. Isso é grande! E isso não se pode medir.
Por Pe. Rubens Chaves