Estes dias é até bonito de se ver que estamos feito os ninivitas a fazer penitência depois de ouvir a pregação de Jonas. Eu, na minha tenra juventude, desconheço outro momento da história recente em que tantos se voltam a Deus para suplicar clemência para o fim do mal do coronavirus.
O momento é trágico, mas ele pede uma reflexão eclesial. Seguindo orientações sanitárias, a Igreja Católica suspendeu todos os seus atos públicos e passou a transmiti-los pelos veículos de comunicação disponíveis. São lives no Facebook, no Instagram… São reuniões que acontecem com ajuda de aplicativos. E é um o apelo: rezemos em casa! Fiquemos em casa!
Agora, quem nunca escutou alguém justificar que reza em casa para não ter que ir à Igreja? Eu mesmo já ouvi muito esta expressão, mas por trás dela havia a rejeição à ida ao templo e também à comunidade que lá se reunia. Esta frase: “eu rezo em casa”, portanto, estava sobrecarregada de fechamento eclesial. Revelava a postura do pseudo cristão que julga se salvar sozinho.
Recordo-me das aulas de teologia. Nelas, certa vez, aprofundamos o axioma de São Cipriano de Cartago que dizia: “fora da Igreja não há salvação”. Este fora da Igreja a que se referia São Cipriano era uma investida justamente contra esta mentalidade de um cristianismo individualista, que põe a comunidade de fé como não importante.
A nossa comunidade de fé é sim importante. Jesus fundou uma Igreja. Um povo. Mandou discípulos dois a dois para corroborar o testemunho, pois o testemunho de um só não tinha valor em seu tempo. O Espírito Santo desce sobre a Igreja reunida no cenáculo. Jesus mesmo disse que onde dois ou três se reúnem em seu nome, ele está em meio. Portanto, manter uma visão individualista da fé é trair a fé.
E como ficamos diante do apelo desses dias de que rezemos em casa? É. Temos que rezar em casa sim. Mas mesmo que rezemos sem um outro ao nosso lado, nunca poderemos nos conceber solitários. A Igreja é una. A oração da Igreja está em favor de toda a Igreja, estejamos nós onde estivermos. Rezamos sempre como Igreja. Ela somos nós. Por isso podemos e devemos rezar em casa, no escondido do nosso quarto. Mas nunca isolados, nunca sem a nossa comunidade de fé.
Quanto a isso é claro o Credo. Nele dizemos: “creio na Igreja Católica…” Sabemos que há apenas três artigos de fé no Credo: crer no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Crer neste Deus que é Uno e Trino. Quando o Credo diz “creio na Igreja” quer apontar para dentro dela. Poderíamos dizer de outro modo: “eu creio dentro da Igreja”. É ela a depositária da nossa fé. É ela que resguarda esta mesma fé. E sem ela eu não posso me entender bem como cristão.
Portanto, rezemos! Mas nunca sozinhos. Onde estivemos, somos sempre Igreja.
Pe. Rubens Chaves