Estes dias, por curiosidade, fui atrás da etimologia das palavras medo e prudência. Surpreendi-me com seus significados. Cultivava, de certo modo, uma certa relação de simpatia com o medo. Afirmara já tantas vezes que o medo pode até ser bom porque pode impedir o ser humano de fazer algo que se arrependa depois. No entanto, adentrando em seu significado etimológico, vi que a palavra medo não é tão positiva. A palavra medo vem do latim metus e aponta para inquietação, temor, ansiedade. Aspectos profundamente paralisantes e de profundo dano psicológico.
Sem carregar esse mesmo peso paralisante, o termo temor, quando aplicado a Deus, na Sagrada Escritura, quer apontar para o respeito necessário a Ele, para a reverência, embora possa também apontar para a quebra da relação com Deus (cf. Gn 3,10). Ainda na Sagrada Escritura há diversos imperativos sobre o medo: “não tenham medo!” (cf. Gn 15,1; Ex 20,20; Dt 31,8; Sl 3,6; Is 41,10; Lm 3,57; Mt 10,28; Jo 6,20). Este imperativo vem carregado de um significado, isto é, para a compreensão de que quando se está na presença de Deus não há porque se ter medo. O medo, biblicamente, significa, inclusive, falta de fé. É isso que Jesus deixa muito claro a Pedro quando ele está a afundar em alto mar depois de ter pedido para ir até Jesus caminhando sobre as águas: “homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31).
Agora, tomei simpatia pela palavra prudência. De origem latina, o termo prudência aponta para previsão, sagacidade. É um encurtamento do termo latino providere (prae – antes + vedere – ver), ou seja, uma pessoa prudente é aquela que busca ver antes, que mede os riscos, que se planeja. Não é uma pessoa travada, estática, mas sabe que projetar é o melhor começo antes de executar qualquer coisa desejada. Esta predisposição esclarece, por exemplo, o apelo de Jesus: “sede prudentes como as serpentes e astutos como as pombas” (Mt 10,16). Ele entendia bem que o discipulado comporta riscos e aquele que é por Ele enviado não pode ser tolo e fazer as coisas ao seu bel prazer. É preciso calcular os riscos para saber muito bem em que chão está a pisar.
A prudência é também uma das quatro virtudes cardeais. Diz o Catecismo da Igreja Católica que «a prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo» (n. 1806). Deste modo, a pessoa prudente é sempre dada ao discernimento, à escuta de Deus pela oração, da consciência, do coração. Portanto, sejamos prudentes sempre, mas nunca medrosos.
Por Padre Rubens Chaves