O famoso ditado de Santo Agostinho, “Quem canta reza duas vezes”, tem sua significação renovada ao conhecermos sua tradução latina: Qui bene cantat, bis orat. Quer dizer que o canto bem executado é uma dupla oração. Note bem: não é o cantar de qualquer forma, como podemos pensar, mas o cantar bem é que equivale a uma prece elevada ao Senhor.
De fato, a música produz efeitos notáveis na alma do cristão. A Igreja, sabiamente, desde suas origens empregou o canto em suas liturgias para ajudar a elevar o coração ao Criador que não cessa de se comunicar conosco. Na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium do Concílio Vaticano II lemos: “Na Liturgia Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração” (nº 33). O canto também cria entre os fiéis reunidos para as celebrações a unidade e comunhão em torno do Deus uno e trino que nos convoca. Não é belo ouvir o Povo de Deus em volta da mesa da Palavra e da Eucaristia cantando a uma só voz, cheio de alegria e júbilo, o hino do Glória na missa dominical?
Foi nas celebrações eucarísticas no santuário arquidiocesano de Santa Cruz dos Milagres que surgiu, como semente lançada em terra boa, o embrião da primeira banda composta pelos seminaristas da Arquidiocese de Teresina dos vários estágios formativos (seminário Propedêutico, de Filosofia e de Teologia). Era nosso estágio pastoral de férias, prática de todos os anos como parte da formação dos futuros padres que irão servir em nosso território. No mês de julho de 2015, na paróquia Santuário, um grupo de seminaristas se comprometeu a cantar a liturgia das missas celebradas na matriz e nas comunidades contempladas pela missão. Alguns serviram com seus dotes para instrumentos: Virgílio Miquéias com o teclado, Adriano Borges com a meia-lua, Otaniel Soares com o pandeiro, Carlessandro Boaventura com o violão, Diego da Silva com o tambor, Mariano Nunes com o triângulo. Os demais contribuíram com a voz: Wemerson Oliveira, Wilson Júnior, Daniel Guimarães e este que a vós escreve. Tudo aos pés do sinal da cruz redentora de Cristo. A música litúrgica foi o instrumento que nos uniu e promoveu a comunhão de talentos a serviço de Deus.
Gratos somos pelo zelo e incentivo de nosso arcebispo metropolitano Dom Jacinto. Ele, que sempre acreditou na potencialidade de seus seminaristas, os quais trata como filhos, impulsionou nosso encontro e desenvolvimento nos motivando a assumir os momentos de animação nas reuniões semestrais na Residência Episcopal e a liturgia da missa celebrada ao final, bem como algumas celebrações na igreja catedral e ocasiões festivas.
Cabe destacar aqui que do núcleo inicial alguns já não se encontram mais, por diversos motivos. Após aquele estágio pastoral outros irmãos de caminhada se juntaram à banda, que cresceu e hoje conta com 11 membros, dentre os quais músicos e vocalistas. Nesse ano, por meio de votação escolhemos o nome que nos identificaria aonde quer que sirvamos: Filhos da Santa Cruz, por melhor expressar nossa origem. O grupo foi gerado sob os braços da cruz do Senhor cujo sinal visível é venerado no nosso santuário arquidiocesano. Isso também nos faz recordar o convite de Cristo aos que desejam ser seus amigos: “Tome sua cruz e me siga”.
Nosso logo, produzido pelo seminarista Virgílio Miquéias, quer transmitir através dos símbolos utilizados a unidade e comunhão através da música litúrgica que é nosso serviço: a cruz nos remete ao seguimento de Cristo e a origem da banda. No centro da cruz está um círculo branco simbolizando a hóstia consagrada, a Eucaristia, onde Jesus se faz presente e em cuja celebração exercemos a maior parte de nosso serviço de canto que, por sua vez, é simbolizado pela clave de Fá inscrita sobre cinco linhas paralelas chamadas “pautas”.
E assim, unidos num só canto e numa só cruz com nosso Bom Pastor, procuramos nos configurar a Ele, suplicando sempre a graça de fazer de nossa vida uma canção de louvor.
Yago Rodrigues de Jesus Waquim
Vocalista da banda, seminarista da Arquidiocese de Teresina, licenciado em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí-ICESPI e estudante do curso de Bacharelado em Teologia.