Uma palavra, quando dotada de sabedoria, pode transformar vidas. Jesus Cristo se faz ouvir e é o grande transmissor da mensagem salvadora do Pai. Mas cabe a todos os cristãos a missão de fazer ressoar os ensinamentos de Cristo. Na Igreja Católica, o leigo ou a leiga (na ausência de um padre ou diácono) também pode celebrar os mistérios da fé ao redor da Palavra. Após passarem por uma formação com cerca de 2 a 3 meses de estudos, totalizando 30h/aula, recebem certificado assinado pelo Arcebispo e estão aptos a desempenharem essa missão.
De acordo com Dom Jacinto Brito, a Arquidiocese de Teresina dispõe de mais de mil leigos e leigas que desempenham a missão de ministros da Palavra. A dispersão populacional impede que inúmeras comunidades tenham a celebração eucarística de forma contínua e regular, assim, com essa colaboração, muita paróquias, capelas, áreas pastorais e comunidades recebem a assistência devida.
“A Palavra de Deus deve ser proclamada a partir da Sagrada Escritura. De muitos modos Deus nos fala. Sabemos que a Bíblia é o referencial insubstituível. Então, quanto mais nossa Igreja se volta para a evangelização, mas ela percebe a necessidade de operários que estejam junto ao povo proclamando essa Palavra. Seja com o testemunho, em rodas de conversas, nos lares, ou em um ambiente de trabalho. E nós temos , há dois anos, esse ministério muito especial e importante que é o Ministério da Palavra”, explica o Arcebispo.
Dom Jacinto destaca ainda a missão e a importância dessa colaboração que acontece dentro e fora da Igreja. “A missão de Proclamar a Palavra deve acontecer na Igreja e fora dela. O lugar privilegiado não é o ambão, e sim fora do templo. A grande contribuição é fazer a Palavra ressoar em todo lugar. Na Diaconia Territorial Santa Teresa Dávilla, que fica localizada no Povoado Santa Teresa (Forania Leste), num domingo a missa é presidida pelo padre. Em outro domingo o momento é conduzido pelo diácono e em outro a celebração da Palavra fica a cargo do Ministro da Palavra. Então, isso significa que estamos agora numa situação bem mais fiel do que era a Igreja no seu princípio, onde todos cumprem seu papel e apontam na mesma direção: o anúncio da Palavra de Deus”, enalteceu.
Essa contribuição se repete tanto na cidade como no interior. “Na tradição cristã, o ministério da Palavra é o primeiro ministério, pois é chamado a suscitar a fé e a educá-la (Rm 10,14-15). Em nosso país, são particularmente numerosas as celebrações dominicais da Palavra, presididas por leigos e leigas que se esforçam por desempenhar esta função na fidelidade ao Evangelho e atendendo às orientações da Igreja e do bispo diocesano” (cf. Documento 62 da CNBB nº 160; Diretório para as celebrações dominicais na ausência de presbítero, da Congregação para o Culto Divino, 10/06/1988; Documento 52 da CNBB, de 1994).
Roniel José Oliveira tem 33 anos de idade e serve há 6 anos como ministro da Palavra na Paróquia São Paulo, localizada no Bairro Bom Jesus ( Forania Norte II). Além das cinco comunidades, ele atua ainda na Área Pastoral Nossa Senhora de Guadalupe e São Juan Diego, na Vila Meio Norte (Forania Leste). Ele conta que desde criança atua em grupos e movimentos da Igreja na companhia da família. De acordo com o testemunho dele, à medida que foi amadurecendo na fé, foi sentindo que a missão de levar a Palavra às pessoas seria a sua grande contribuição como filho de Deus.
“Eu lembro que estava na Igreja e num certo dia, num domingo, o padre teve um imprevisto e não pôde comparecer. A Igreja estava cheia e muitos fiéis estavam à espera do início da celebração. Fui escolhido numa rápida conversa e conduzi a celebração da Palavra naquele dia. Foi bem difícil inicialmente, senti medo da missão, mas depois, com a prática em outros momentos e somado à formação, pois sou da primeira turma que formou ministros e ministras da Palavra na Arquidiocese, sinto a certeza confiada por Deus”, acrescenta.
Na ausência de um presbítero, cabe a presidência da celebração da Palavra de Deus a alguém dignamente nomeado ou por ele delegado, pois a presidência litúrgica é exercida em sinal de Cristo-Cabeça da Igreja, que é seu corpo (Ef 1,22-23). Os diáconos são, portanto, os primeiros indicados para exercer este ministério na ausência do presbítero. No entanto, todo cristão, seja homem ou mulher, por força do seu batismo e confirmação, pode assumir legitimamente este serviço (cf. Documento de Aparecida nº 211). Portanto, devem ser preparados com uma adequada formação, diáconos, seminaristas e ministros leigos e leigas para exercerem essa tarefa litúrgica de presidir a oração da comunidade cristã.
“Hoje eu vejo que aquele início difícil se tornou, com a caminhada, um processo prazeroso. Vejo o quanto a comunidade também se satisfaz com o momento, afinal aprofundamos a Palavra e geramos maior reflexão. De alguma forma sinto que essa colaboração e esse serviço faz crescer a fé dos meus irmãos”, atesta.
Portanto, a função de quem preside a celebração é ajudar o povo a tomar parte de cada ação litúrgica e a viver interiormente o sentido de cada uma delas, não com discurso, mas fazendo bem e colocando alma naquilo que faz. Cada um dos gestos e palavras, tom de voz e atitude de quem preside a celebração , devem revelar a ternura do Espírito, de quem recebeu o dom para atuar na assembleia de irmãos. É assumir espiritualmente a atitude de Jesus que veio para servir e não para ser servido (Mc 10,45).
Outras informações
De acordo com Francisco Alves, coordenador Arquidiocesano do Ministério da Palavra, está agendado para junho de 2019 o ‘Simpósio para o Ministro da Palavra’ na Igreja da Vila Operária. Para o coordenador, a preparação para esse momento se justifica pela busca da unidade. “Somos mais de mil pessoas e graças às celebrações da Palavra de Deus, as comunidades persistem e crescem na fé. E não só, cresce também no compromisso com Jesus Cristo e o seu Reino. Sem elas não teremos verdadeiras comunidades cristãs, e em grande parte, o povo não conservará a fé católica”, diz finalizando.
Por Vera Alice Brandão