A acessibilidade cultural é uma conquista das pessoas com deficiência. Em termos gerais, o direito é consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. E isso implica em promover a participação das pessoas com deficiência na vida cultural em sociedade. E foi movida por esta garantia que a Ação Social Arquidiocesana – ASA, através do Serviço Levanta-te vem para o meio, idealizou e ofertou um curso de fotografia para surdos. A formação teve início no último dia 8 de outubro e passado pouco mais de um mês os alunos realizaram nessa manhã (14) a primeira exposição fotográfica.
Denominado de “Luz para as mãos” essa é uma bela e bem-vinda iniciativa, concebida pela certeza de que a comunidade surda tem potencial para a prática dessa modalidade. O grupo formado por oito alunos começou a mergulhar no mundo da fotografia bem antes do curso. Os relatos é de que já havia admiração pela arte.
“Eu desde pequena me senti tocada pela fotografia. Quando tomei conhecimento do curso procurei viabilizar minha participação aderindo às etapas de seleção. Hoje sei que os conhecimentos adquiridos irão me permitir buscar cada vez mais a minha profissionalização. Tudo que almejo hoje é poder aprender mais e mais”, diz Bianca Macêdo que é integrante da turma.
A iniciativa pioneira é fruto de uma parceria entre ASA, através do Serviço Levanta-te vem para o meio, Prefeitura Municipal de Teresina – PMT e Ministério Público. Com essa junção de esforços, jovens surdos recebem via auxílio de uma intérprete de sinais todo o acompanhamento formativo. Através do curso realizado na sede ASA o serviço cumpre o seu papel de promoção humana.
“Me sinto lisonjeada com a oportunidade de contribuir com o crescimento desses jovens. Me tornei intérprete de libras para ajudar e mudar, transformar vidas. Hoje posso afirmar, diante dessa linda exposição, que também fui transformada. Aprendi muito nesse processo de formação, inclusive sobre o mundo da fotografia”, relata Adriana que foi a intérprete e recebeu a missão de repassar todo o conhecimento abordado em sala de aula pelo professor.
O curso contempla teoria e prática em um período de um mês. O desafio de formar novos praticantes foi dado ao fotógrafo Renato Bezerra. Há mais de 20 anos ele atua como profissional na área e recebeu o convite para compartilhar conhecimento. Uma missão que ele enxerga como mais uma possibilidade de empoderamento desta comunidade. Renato Bezerra destaca como sendo inédita a experiência profissional depois de tantos anos de atuação.
“Uma experiência inédita. Sabia que seria uma grande missão. Mas hoje posso testemunhar que os objetivos foram alcançados e uma prova é a exposição. Aprendi muito. Muitas vezes al longo do curso fui questionado pelos alunos sobre temáticas que precisei voltar a estudar. Então o crescimento foi de todos que participaram dessa iniciativa. E posso ainda destacar a vontade e a sede de mais conhecimento”, evidencia Renato.
Ao longo do curso os alunos tiveram a oportunidade de experimentar diversas possibilidades. No processo de formação as aulas práticas foram realizadas em cenários conhecidos de Teresina como mercados, avenidas e pontos turísticos da cidade. Para Misael Wesley da Silva, participar do curso foi confirmar o interesse pela arte de fotografar que se deu ainda na infância.
“Eu sempre quis aprender a fotografar. A minha curiosidade me levou a conhecer técnicas de forma amadora. Hoje com esse curso sinto-me ainda mais preparado. Quero mesmo é alçar voo no mundo da fotografia. Amo fotografar e todos os conhecimentos que adquiri nesse curso vão permitir uma melhora no meu desempenho”, diz o jovem.
Essa é a primeira turma do curso ‘Luz para as Mãos’. De acordo com Marcos Júnior, coordenador do projeto “Levanta-te vem para o meio”, uma iniciativa pioneira que reflete o olhar sensível da Igreja Católica de Teresina, para a comunidade.
“Aos interessados o serviço orienta o preenchimento de um cadastro de reserva na sede da ASA que fica localizada na Avenida Frei Serafim, no prédio do Centro Pastoral Paulo VI. É importante também apresentar laudo com a confirmação da deficiência para postular a formação. Não sabemos ainda quando será aberta uma nova turma, mas estamos sempre ofertando formações que visem ampliar as possibilidades de crescimento da comunidade surda. Para mais informações disponibilizamos o telefone (86) 2106-1867”, disse o coordenador.
Ao final da exposição o professor de fotografia deixou um recado aos seus alunos dizendo: “A deficiência pode parecer algo que pode nos bloquear de algumas coisas, mas, é importante dizer que vocês podem ir além de qualquer deficiência, e a nossa intenção com esse curso foi quebrar essas barreiras. Todos podem ir além e construir algo além daquilo que é o esperado”.
Foto: Alan Matos
Por Vera Alice Brandão