Calcula-se que cerca de 100 mil pessoas vivem, atualmente, nas ruas dos centros urbanos brasileiros. São irmãos que possuem um histórico de perdas de casa ou mesmo de familiares. Em sua maioria, são dependentes químicos do sexo masculino e com idade média de 40 anos. Há uma falta de acompanhamento dessa parcela da população por parte do poder público, que costuma ser criminalizada.
Mas, aqui em Teresina, um espaço acolhedor que tem a gestão da Pastoral do Povo de Rua surgiu para ir contra essa realidade e a favor daquele que se encontra em situação de vulnerabilidade social. É a Casa da Pastoral do Povo de Rua, espaço de acolhida e de encontro com Deus. Localizada no centro de Teresina, o local fica de portas abertas e promove crescimento e troca de experiências, assim relata Kelson Costa. Ele tem 45 anos de idade e há 13 anos mora na rua. O teresinense revela que nunca se corrompeu e que a Casa da Pastoral do Povo de Rua o ajuda a reconstruir e recuperar tudo que perdeu.
“Tenho conflitos familiares. Optei por sair de casa porque cheguei a ser vítima de agressão e também agredi. Hoje não tenho nada. E aqui nesta casa o encontro com o irmão me proporciona a escuta. Ouvir os testemunhos e relatos me ajuda na busca pelo equilíbrio. O acompanhamento espiritual me auxilia na lida com as tragédias do mundo lá fora. Se eu não passar por aqui, me sinto fraco, sem forças para buscar uma saída e reverter uma situação de total vulnerabilidade”, diz e se emociona.
José Nilton também frequenta a Casa e compartilha a importância do espaço para o fortalecimento da sua fé. Ele destaca as atividades e terapias oferecidas pela Casa como parte do projeto de acompanhamento espiritual e psicológico.
“Eu venho sempre e em especial me sinto melhor durante as rodas de conversa. Posso nestes encontros falar de Deus e quando eu falo Nele sinto que minha alma se renova. Sou cearense, um andarilho. Deixei minha família, meus três filhos e sou dependente químico. Fiz uma escolha e sofro com as consequências dessa vida de abandono. Mas é na missa, no domingo, aqui na Casa, que ganho fôlego e renovo as esperanças para quem sabe um dia reverter essa realidade. Eu já fui levado para uma casa de recuperação e tive toda a assistência , mas não consegui continuar o tratamento. Hoje me encontro mais uma vez em situação de rua”, diz lamentando.
A Pastoral do Povo da Rua é quem gere a Casa. É um olhar da Igreja para os moradores de rua e tem como missão ser presença junto à população em situação de necessidade. Visa desenvolver ações que transformem a exclusão social em projetos de vida para todos, além claro, de garantir a dignidade da população por meio da defesa dos seus direitos.
De acordo com o padre João Paulo Carvalho , que coordena a Pastoral e está à frente da administração da Casa, a missão e tudo que envolve a gestão do espaço requer esforço concentrado e apoio da população.
“São muitas as equipes engajadas na Pastoral. Tem a equipe de estrutura, de visitas, de alimentação. Tem os voluntários que colaboram com os trabalhos de promoção humana. São servidas refeições diárias. Tem também os momentos de oração. Ao longo do dia, acontecem atividades variadas, como assistência psicológica, aulas de atividades artísticas e grupos de discussões sobre os direitos e as políticas públicas em relação à população de rua. Mas é necessário investimento para se manter toda essa estrutura. Tem dias que fica difícil ofertar tudo que é o necessário para eles e, por isso, clamamos por apoio. Há a possibilidade de ser um benfeitor, há a alternativa de colaborar com depósito bancário. Existe ainda o trabalho voluntário e também doações de bens perecíveis e material de limpeza. Toda ajuda é bem vinda. A população de rua só cresce e lamentavelmente são poucas as políticas públicas que visam dar essa assistência. Então é necessário perceber que esses irmãos carentes são sinal de Deus. Eles tem a beleza de Deus e podem, com nossa ajuda e auxilio, construir novas histórias”, convoca o padre.
Francisca Oliveira Rodrigues é terapeuta comunitária. Conduz oficinas e dinâmicas que ajudam na ressocialização dos irmãos e irmãs que chegam até a casa. Ela destaca que, ao longo desses anos, são vários os frutos do trabalho realizado pela Pastoral de Rua, com a reintegração social de dezenas de moradores de rua.
“Eu poderia escrever um livro com lindas histórias. Conheci muitas pessoas que chegaram aqui sujas, mal vestidas, sem acreditar na própria vida, mas hoje estão nos seus lares. Por aqui, já passou um morador de rua que, depois, se tornou missionário. Ele viveu 20 anos na rua, era alcoólatra, e hoje reconstruiu sua vida e resgatou sua família”, recorda.
A Pastoral da Rua é composta por uma equipe de 30 pessoas e funciona com a ajuda de diversos voluntários. O trabalho deles é desenvolvido durante todo o ano e consiste no acolhimento de moradores desabrigados .
Lucas Vaz tem 23 anos e é um exemplo de mudança. Saiu de casa por conta do envolvimento com entorpecentes. Revela que roubou e praticou atos ilícitos. Esteve preso e após quitar as dívidas com a justiça, ganhou a liberdade e conheceu a Casa. “E foi ai que tudo mudou. O aconselhamento espiritual me ajudou a me distanciar do vício. Hoje estou voltando aqui para agradecer ao padre João Paulo e a todos os que aqui de alguma forma contribuíram para minha melhora física e espiritual. Assinei minha carteira de trabalho em uma academia de dança e estou empregado como zelador. Encontrei uma companheira e quero muito construir uma família. Quero voltar para o seio da minha família um dia e poder dizer: renasci”, diz e chora.
A Casa da Pastoral do Povo de Rua não contabiliza o número de atendimentos, mas de acordo com a administração cerca de 50 pessoas passam por semana pela casa e como os serviços e a manutenção exigem investimentos, há diferentes possibilidades para colaborar e permitir que as oficinas, terapias, refeições e demais atividades possam ser ofertadas.
O endereço da casa é Rua Anísio de Abreu, número 702. Centro/Sul. As informações bancárias para contribuição são: Banco do Brasil- Agência 4. 249-8, Conta Corrente 11.348-4. Você ainda pode ajudar se tornado um benfeitor. Os atendimentos para confirmar essa participação se dá via Capela do HGV, local em que estão a postos colaboradores da Pastoral do Povo de Rua para atendimento. O telefone da Pastoral do povo de Rua é o (86) 99978-8088/ (86) 99500-6446.
Por Vera Alice Brandão