Em muitos altares onde se venera uma imagem de São José, lê-se: “ide a José”, uma frase do faraó aos que a ele pediam pão, já que constituíra José seu “Ministro da Fazenda”, confiando-lhe os celeiros.
Essa ligação não é casual, visto que tal como ao “José do Egito”, no Novo Testamento Mateus apresenta as revelações de Deus a São José, em forma de “sonhos”.
Assim, José é associado à imagem de um Patriarca e também como alguém que providencia.
Na década de sessenta, São João XXIII inseriu São José no Cânon Romano e, recentemente Bento XVI quis estender a invocação de São José a todas as 14 Orações Eucarísticas, chamando-o: esposo de Maria. Ambos os Papas se chamavam José!
“Justo”, eis o qualificativo reservado a São José (Mt 1,19). Isso equivale a dizer, um homem observante da Lei do Senhor. Tanto assim que o evangelista Mateus anota: “despertando (do sono), José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa, sua esposa” (Mt 1,24)
Tudo transcorria no silêncio, envolto no mistério divino, seja a encarnação do Verbo, em Maria; seja a revelação desse acontecimento a José! Aliás, não se registra uma palavra sequer de José nos Evangelhos. Ele é o homem do silêncio, do abandono à vontade do Senhor e da ação.
“Levanta-te, toma o Menino sua Mãe e foge para o Egito” (Mt 2,13) Mais uma semelhança de José como o “José, filho de Jacó” que por ter sido vendido por seus irmãos vai parar no Egito. Um ponto de referência bíblico interessante também: Jesus, o Libertador, o novo Moisés, vem igualmente do Egito! (Cf. Os 11,1).
José, que não teve parte na concepção de Jesus, no seio de Maria Virgem, é chamado com razão: seu esposo! Mais uma vez é Mateus que desdobra esse mistério, mostrando o papel que José terá no cumprimento da profecia feita a Davi em IISm 7,12-16. A promessa “quando repousares com teus pais (Davi)… então suscitarei, depois de ti um filho teu e confirmarei a sua realiza… e teu trono será firme para sempre”.
Como a descendência legal em Israel, era feita pela linha paterna, é José quem contribui decididamente para o cumprimento da Profecia: Filho de Davi!
Mas, neste Ano do Laicato não podemos esquecer: José era um leigo, tal como Maria. Ambos se santificam, servindo a Deus na família e no trabalho. Não é por acaso a expressão do povo: “Não é Ele o filho do carpinteiro?” ou simplesmente “o carpinteiro”. Jesus ao se fazer homem assume também a cultura de seu povo e exerce uma profissão. Note-se que por 30 anos viveu em Nazaré, nesse ambiente familiar e dedicado ao trabalho!
Não por acaso, o Beato Paulo VI, prestes a ser canonizado, ao visitar Nazaré aos 05 de janeiro de 1964, exclama: “Nazaré, a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a Escola do Evangelho”. Dessa escola ele destaca: uma lição de silêncio, uma lição de vida familiar, uma lição de trabalho.
Na “lição do trabalho”, ressalta Paulo VI: “Ó Nazaré, ó casa do ´Filho do carpinteiro´. É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, estabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais do que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim”.
Eis aí a lição de Nazaré para todos os cristãos leigos e leigas, que por seu trabalho, como a Sagrada Família, constroem o mundo e o consagram ao Senhor, para quem tudo converge!
“Ide a Jose!” E dele ouviremos essas grandes lições da vida.
Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho
Arcebispo Metropolitano de Teresina