Há não muitos anos vivia em nossa capital o Pe. Pedro Balzi. Sua obra pastoral ainda faz sentir um grande efeito na geração dos que conviveram com ele ou de algum modo foram beneficiários de sua caridade multiforme. Poucos, porém, conheceram as origens desse missionário italiano, embora suíço de nascimento, que escolheu morrer e ser sepultado em Teresina, depois de 22 anos como pároco da Vila da Paz.
Quando Dom Miguel o trouxe em março de 1987, Padre Pedro deixava a Bolívia depois de 22 anos. Antes de navegar para a América Latina, o jovem sacerdote, ordenado em 1950, já havia dedicado 13 anos à missão no delta do rio Po’, no nordeste da Itália. Pároco de camponeses em pequenas comunidades arrasadas por sucessivas inundações na década de 50. Ali trabalhou, por exemplo, ao lado do Bem-aventurado Sandro Dordi, martirizado tempos depois no Peru.
Há poucos dias tive a graça de visitar a paróquia a que serviu em La Paz, na Bolívia. E que emoção perceber como é viva a sua memória; e mais, quantos frutos continua a produzir!
MUNAYPATA era a zona mais populosa na periferia de La Paz, a quase 4000m de altitude, antigo domínio do povo andino aymara. Justamente ali a Diocese italiana de Bérgamo instalou sua presença pioneira na Bolívia: a “Paróquia de Santiago Apóstol”, onde Padre Pedro foi pároco entre 1964 e 1986. De um lado tinha as grandes intuições do Concílio e, no coração, o apelo da Igreja pela América Latina. De outro, devia enfrentar as incertezas históricas e políticas de um país de pobrezas, governos golpistas e insegurança econômica generalizada. Basta ter em mente que Padre Pedro perdeu um dos rins depois de tentar dissuadir um grupo de universitários do confronto sangrento com as forças armadas durante um golpe militar. Os militares o prenderam, espancaram-no com cabo de fuzil e só depois de uma intervenção do Arcebispado o soltaram.
Culpado por empenhar-se ao máximo em salvar os feridos. Aliás, é na atenção aos doentes e sofredores que Padre Pedro ficou mais conhecido em La Paz. Movido de especial compaixão pelas gestantes e pelos enfermos graves, que facilmente se entregavam a “bruxarias” ou morriam sem atendimento, Padre Pedro idealizou e construiu com ajuda de benfeitores o Hospital João XXIII. Segue reconhecido como uma das mais ousadas construções da época, tanto mais porseus destinatários: os mais pobres.
Ao lado do Hospital, Padre Pedro fez surgir uma Escola gratuita de Enfermagem, entregue à proteção de Nossa Senhora, onde as jovens pudessem receber sólida formação humana e técnica que lhes tornassem exemplares no ofício. Para as que vinham do interior, havia hospedagem e o cuidado generoso das Irmãs Ursulinas, às quais Padre Pedro confiou boa parte de suas obras na Bolívia.
Na sede da paróquia, além da Igreja Matriz de São Tiago, um grande auditório-teatro e salas para as pastorais. A fim de descentralizar a vida celebrativa e pastoral, construiu capelas e salões comunitários, ainda no imediato pós-Concílio, pelo que sofreu sérias críticas. Para seus 60 mil paroquianos, somou à obra de uma escola paroquial já existente um Jardim de Infância no qual as mães pudessem deixar os filhos e garantir-lhes, durante o dia, segurança e alimentação.
Se é empolgante numerar as suas obras, melhor é notar que todas nasceram do seu coração de verdadeiro pastor. Padre Pedro é amado como um pai por uma multidão de bolivianos que o encontraram ainda na infância e na juventude, foram cativados por sua personalidade que unia austeridade e ternura, e acabaram positivamente influenciados por ele na vida espiritual, familiar e mesmo profissional. Quantos médicos, professores, profissionais autônomos, e ao mesmo tempo, lideranças pastorais, catequistas, religiosos, ligam sua experiência de Deus a uma motivação que receberam a partir da arte pastoral com que Padre Pedro conduzia a sua vida sacerdotal…
Um deles me afirmava: “Ele sabia atrair-nos! Nenhum dos jovens que dele se aproximava podia perder-se. Sabíamos das grandes exigências que nos faria, mas era tão criativo e sempre entusiasmado, que era difícil não segui-lo”.
Padre Pedro foi na Bolívia o mesmo que para nós no Brasil: sabia cativar-nos o coração, sabia levar-nos a Deus.
Por Igor Torres – Seminarista da Arquidiocese de Teresina