“Quero que nos considere ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus” (I Cor 4,1).
Com essas palavras, o Apóstolo Paulo, que se orgulhava do título “Servidor (ministro) de Cristo”, se auto-define e manifesta a identidade dos ministros de Deus pelos tempos afora.
Encarnar esta eleição e consagração na própria vida, segundo o tempo e o lugar em que vive, é o desafio do padre, do ministro ordenado.
Em dois mil anos de história, a Igreja Católica conheceu vários perfis de padres. Estes, ora se sucedem, ora convivem!
Quando Lutero, um padre agostiniano, rompe com a comunhão da Igreja naquele 31 de outubro de 1517, rompe também com um modelo de ministro ordenado. A ênfase que era dada ao padre como sacerdote, homem que oferecia o sacrifício pelos vivos e defuntos é substituída pelo homem da Palavra. O Reformador brada: “Só a fé, só a graça, só a Escritura”!
Esse “grito” ecoou na cristandade da época, abalando a prática de valores permanentes e rasgando horizontes para uma volta às fontes.
No seio da Igreja Católica se reforça o estudo da Palavra e da Teologia para os clérigos e o Concílio de Trento põe as bases para uma vida eclesial mais fraterna com a instituição das paróquias e seus párocos!
O ministro de Cristo retoma mais e mais o seu papel de anunciador do Evangelho, tornando-o presente no ensino da doutrina e na celebração dos sacramentos.
Como a Reforma Católica não atingiu suficientemente as bases da Igreja, pouco a pouco o padre foi se tornando a síntese dos ministérios, ao invés de assumir o seu papel de “ministro da unidade”.
O sopro do Espírito Santo vem com a feliz iniciativa de São João XXIII: o Concílio Vaticano II. Os tempos estavam mais maduros, a polêmica com os Reformadores cedia ao diálogo e pudemos conhecer um momento novo. O Concílio reserva aos padres um documento importante: “A Ordem dos Presbíteros”. Evitando o termo “sacerdote”, comum a todos os batizados e apontando para uma visão mais abrangente do ministério ordenado, retoma o vocabulário bíblico: presbítero.
A Igreja conciliar dá ênfase à diversidade dos ministérios, confirma a importância do sacerdócio comum dos fieis e aponta a santidade como via comum para todos.
Participante do único sacerdócio de Cristo, o padre é chamado a ser no seio da comunidade dos fieis e no meio do mundo: profeta, sacerdote e pastor. Recolocando a missão evangelizadora em primeiro lugar, confirma a dimensão pastoral do ministério e afirma ser a Celebração da Eucaristia a mais alta função do presbítero. Esses três pilares precisam ser harmoniosos! A exigência quase exclusiva dos fieis pelo padre, como “homem do culto” não passou!
Cabe a nós olhar modelos com o Santo Cura d’Ars e ver como harmonizou a pregação, o ensino do catecismo, o atendimento individual dos fieis, sobretudo no confessionário com a celebração edificante da Eucaristia diária e um terno amor a Maria.
O fundamental para esses três pilares será sempre o amor! O padre não pode ser senão um AMIGO de Jesus, de quem revela os segredos, colhidos na intimidade com o Mestre.
Só pela Fé viverá sua missão. Unicamente como instrumento da graça conceberá o seu ministério sacerdotal. Só a Palavra de Deus será o alimento forte de sua pregação. Já São João Maria Vianey exclamava: “O padre é o amor do coração de Jesus!”
Ajudemos os nossos padres a renovar e fortalecer o fundamento de seu ministério!
Oremos pelos nossos padres, para que o brilho externo não os encante ou iluda! Sejam antes homens de Deus, que a partir do amor a Cristo e ao seu povo brilhem pela paixão incontrolável de fazer o Cristo conhecido e amado. Esses serão os melhores promotores vocacionais, esses darão aos membros do Projeto “Terra Sacerdotal”, razão para sua esperança.
Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho
Arcebispo Metropolitano de Teresina