O relógio marcava sete horas da manhã (11), quando o Arcebispo de Teresina, Dom Jacinto Brito deu as boas vindas aos participantes da 22ª Caminhada da Fraternidade e iniciou a celebração que teve como cenário a Praça da Liberdade, localizada ao lado da Igreja de São Benedito, no centro de Teresina. Uma multidão com mais de 40.000 pessoas participou do evento que demonstra a generosidade e solidariedade do povo teresinense .
“Acordei bem cedo, mas estar aqui hoje é uma vontade que carrego o ano inteiro. Começa hoje uma e eu renovo o desejo de estar presente na próxima. Sinto-me importante. Colaborar com o bem do próximo é algo que me faz bem e engradece”, disse a jovem estudante do ensino médio Marina Dantas, da paróquia Nossa Senhora de Fátima.
Os fiéis começaram a chegar ao local de início da Caminhada ainda antes das seis da manhã. Como é o caso da Dona Maria Albuquerque da paróquia Nossa Senhora da Vitória. “Eu acordo muito cedo e em um dia especial como hoje, como dependo de ônibus, a organização foi maior. Trouxe meus dois netos , Caio e Marcos, e o nosso domingo será especial. Ao trazê-los para um momento como esse a sensação é de que estou ofertando a mais importante lição de vida: amar ao próximo e contribuir para o seu bem. E aqui não só os meus netos estão tendo essa oportunidade, mas todas as pessoas carentes que precisam da nossa ajuda e participação. A Caminhada é uma prova de amor!” emocionou-se dona Maria.
Após a celebração, uma queima de fogos dava a largada da caminhada que iniciou na Igreja de São Benedito , no centro da cidade e teve como destino final a Ponte Estaiada, na zona leste. O percurso de 5 km não intimidou o senhor Francisco Ramos. Ele acompanhou atentamente as orientações de um educador físico que orientou exercícios de aquecimento para o público. “Eu tenho 68 anos, mas graças a Deus, Ele me concede saúde, não há impedimentos para cumprir com essa maratona da solidariedade. Realizo caminhada diariamente e hoje sou um corredor da paz”, disse o funcionário público aposentado se referindo à temática da Caminhada desse ano ‘Somos da paz’. Uma alusão ao apelo do evento que busca conscientizar sobre a importância de construir um mundo de paz para todos.
O casal Carlos e Francisca Soares veio da Paróquia São João Evangelista, do Bairro Parque Piauí. Eles participam da caminhada há seis anos e, esse ano, com um filho pequeno, temeram não poder participar pela sétima vez do momento de fé promovido pela Arquidiocese de Teresina através da Ação Social Arquidiocesana (ASA).
“Nós não tínhamos com quem deixar nosso filho. Os avós não residem aqui em Teresina e João Felipe tem apenas 1 ano e dois meses de idade e ainda mama. Mas acho que não há incertezas e dúvidas quando é para fazer o bem. Trouxemos o carrinho, água, alguns alimentos leves e ele após mamar, ainda na celebração, dormiu como um anjo e nós aproveitamos para nos abastecer de toda essa atmosfera de paz da Caminhada”, disse o pai.
E não faltou mesmo disposição nem fé aos participantes da 22ª Caminhada da Fraternidade. A multidão chegou a Avenida Dom Severino com fôlego de atleta e alegria estampada no rosto. Afinal, o sentimento que impulsiona os peregrinos das diferentes paróquias da Arquidiocese é a alegria de poder colaborar com a manutenção das casas e abrigos beneficiados com os recursos arrecadados através da venda dos kits (que inclui camiseta, boné e mochila). São muitas as instituições que atendem pessoas nas suas mais variadas carências e que encontram nessas instituições um lar para receber assistência social e orientações nas áreas de saúde e assistência social.
Entre as casas de apoio está o Lar de Misericórdia, que existe desde dezembro de 1998 e acolhe pacientes com câncer e seus acompanhantes vindos de outros municípios do Piauí e até de outros estados. A casa tem capacidade para abrigar 40 (quarenta) pessoas e vive de doações. Além de abrigo, o Lar oferece alimentação, presta apoio junto aos estabelecimentos de saúde e auxílio na manutenção do tratamento. E todo esse custeio vem da bondade daqueles que dizem sim a Caminhada, adquirem o kit e colaboram para a continuidade desses serviços que são ofertados de forma gratuita aos mais necessitados.
A paroquiana da Igreja de Fátima, Rosângela Pimentel, disse sim há oito anos e garante que o sentimento é de felicidade. “Se os que recebem o fruto dessa ação são os beneficiados, eu me sinto tão feliz quanto eles. Creio que fazer o bem e contribuir para a felicidade do próximo é tão gratificante quanto perceber o sorriso no rosto daquele que recebe. Se eu posso fazer algo, não me resta alternativa a não ser agir desta forma. Aliás, é desta forma que nos aproximamos do Pai. Ele age assim e a Sua Palavra nos orienta para tal gesto. Se eu tenho algo e esse algo é suficiente, e se eu posso compartilhar isso com alguém e torná-lo feliz, por que não fazer? Compartilhar o bem é ter certeza de que colheremos o bem. Fazer o bem é receber o bem também. Como cristã, não tem sentido ser feliz sozinha. A Caminhada da Fraternidade me permite ser feliz através da felicidade que proporciono ao outro”, afirmou.
Os carros de som que embalaram a multidão animaram os participantes no ritmo de trilhas juninas. Mas no decorrer do trajeto, uma trilha tocou a jovem Ilana Machado. A universitária afirmou que todas as vezes que escuta a música “O que é? O que é?’” de Gonzaguinha, se lembra da Caminhada da Fraternidade e da alegria de vivenciar esse momento.
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!”, canta a jovem afirmando em seguida que “mais bonita do que a música só a imagem dessa multidão unida por uma mesma causa”, disse feliz do alto de uma caminhão onde ela ajudava na venda de água para os participantes.
Já era por volta de 11h da manhã quando os participantes começam a chegar ao destino final: a Ponte Estaida. O trio que trazia o coordenador geral do evento, padre Tony Batista, e o Arcebispo Dom Jacinto, vinha logo atrás e no rosto dos dois pastores o sentimento de alegria e gratidão. O público que se encontrava no estacionamento da ponte já era animado pelo padre Jardel Moreira e a Banda Mais Fides. Alguns buscavam abrigos embaixo de árvores e nas passarelas, afinal os termômetros marcavam acima de 30°. Mas a alegria era a marca maior daqueles que finalizaram o percurso. Já no palco, padre Tony agradeceu a presença de todos e falou emocionado com o público. “Hoje eu venho com o meu coração cheio de gratidão agradecer a grandeza do coração de Teresina. O meu agradecimento é para todos os homens e mulheres de boa vontade e que hoje disseram não a violência. Vocês disseram para Deus e para o mundo que são pessoas de Paz. Agradeço aos voluntários que nos ajudaram, as empresas que apoiaram e a disponibilidade de todas as pessoas. Se não fosse a generosidade da nossa cidade não seria possível realizar um evento como esse. Então eu louvo a Deus por aqueles que se colocam a serviço dos outros e eu tenho certeza que Deus acolhe essa nossa oferenda. Isso com certeza se reverte em saúde para todos que estão aqui presentes e para suas famílias. A caminhada foi bonita porque vocês fizeram bonito. Que o Pai do céu nos abençoe”, disse emocionado.
O Vigário geral da Arquidiocese de Teresina anunciou a data da próxima edição. A 23ª Caminhada da Fraternidade será dia 10 de junho de 2018 e encerrou com uma frase apaixonada: “Teresina, Eu amo vocês!”.
Para o Arcebispo de Teresina que realizou todo o percurso, grande parte dele a pé, ficou a certeza da grandiosidade do momento. “Eu creio que é um evento que vai se firmando. Vinte e duas edições representam duas pernas bem estabelecidas. É a força da alegria e da solidariedade. É o sinal da fraternidade que não se espanta com os sol forte da nossa cidade. É de fato um momento de fé que proclama a fraternidade acima de qualquer outro gesto. Sem o amor concreto traduzido em gesto e em olhar e também em cuidado e em oração não poderíamos falar de fraternidade. Por isso parabenizo a toda a equipe que tem a frente o capitão padre Tony Batista, que com sua vontade e disponibilidade coordena essa bonita festa. Aqui não se trabalha por dinheiro e sim pela causa de ajudar os mais necessitados. É uma decisão do coração que nasce da fé”, finalizou.
Fotos: Dalva Muniz e Mário Jorge
Por Vera Alice Brandão