Como sabemos, o mês de setembro é dedicado à Bíblia Sagrada. Mas o que isso significa para nós católicos? Que proposta ou compromisso podemos aproveitar deste tempo? Mais do que um tempo de homenagens e comemorações ao “livro sagrado”, esse pode ser um período de mudança de atitude, de conversão. Jesus, que é a própria Palavra (Jo 1, 14), ensina que o amor a Ele implica aproximar-se da Palavra Sagrada: “se alguém me ama, guardará a minha palavra”(Jo 14, 23). Este ensinamento não deve ser confundido com uma espécie de religião do “livro”, mas entendido a partir de uma oportunidade de conhecer melhor quem desejamos amar, afinal, como nos diz Santo Agostinho, só amamos o que conhecemos.
Quando os parentes de Jesus o procuraram e não podiam se achegar por conta da multidão ele declara que sua mãe e seus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam, a põem em prática (Lc 8, 21). Ora, esta não é uma declaração de exclusão, de marginalização de sua família, mas de ampliação: a Palavra é a porta para quem busca conhecer o que agrada a Deus, e quem o faz passa a fazer parte da família de Jesus. Devemos entender claramente que se aproximar da Bíblia Sagrada é aproximar-se autenticamente de Deus, conhece-lo, amá-lo. Quem ama procura saber o que o amado deseja, procura conhecê-lo profundamente e, em relação a Deus, a melhor forma de fazer isto é meditar a Sagrada Escritura; além do mais, meditar continuamente a Palavra de Deus é uma verdadeira fonte de felicidade (Sl 1, 2).
Se não temos intimidade com o que Deus nos fala através da Sagrada Escritura podemos cair na trilha da escuridão, mas nos aproximando novamente dessa fonte de vida encontramos a claridade que dissipa as trevas do medo e da paralisia, pois a Palavra do Senhor é luz para os nossos caminhos (Sl 119/118, 105). Muitos de nós, por vezes, tememos ou nos paralisamos diante da Bíblia. Por não a conhecermos, sermos escrupulosos ou sentirmo-nos incapazes de compreender os textos sagrados. De fato, como diz São Pedro, a interpretação da Sagrada Escritura não é pessoal, não é individual (1 Pe 1,20), mas deve ser entendida no seio da Igreja, a comunidade dos que creem auxiliada pelo Espírito Santo. Espírito que, em suprema sabedoria, suscitou na Igreja o método da Leitura Orante, fluxo de espiritualidade e força que emerge da Palavra de Deus.
Ler, meditar, rezar e contemplar, – os passos da Leitura Orante são caminhos facilitadores para a afeição em relação à Sagrada Escritura. Não podemos abrir mão deste tesouro, nem cultivar o ignorante preconceito de que ler e andar com a Bíblia é algo próprio de “protestante”, afinal ela brotou do coração da Igreja. Uma boa proposta para este mês é tomarmos a leitura do Evangelho de São Lucas, que expõe as parábolas da misericórdia; ou ainda a Epístola de São Tiago, que fala sobre a vivência prática do amor cristão. De todo modo, a leitura dos textos sagrados deve ser exercício constante de todo batizado; melhor ainda se fosse tema de nossas conversas e lema de nossas vidas. Aproveitemos este tempo de modo a produzir bons frutos; além de falar sobre a Bíblia devemos tomá-la e lê-la, pois como nos diz São Jerônimo, quem despreza a Sagrada Escritura, despreza o próprio Jesus Cristo.
Daniel Guimarães Gonçalves
Seminarista da Arquidiocese de Teresina