Virou questão de saúde pública e em alguns países chega a ser a primeira causa de mortalidade. Estamos falando do suicídio. Um mal que acomete principalmente os jovens com idade entre 15 e 24 anos. No Piauí as ocorrências tiveram um maior crescimento no século XXI. A capital do estado, Teresina, já chegou a ocupar a 2° posição do ranking em mortes por suicídio. E são esses números negativos não só no nosso Estado, mas em todo o mundo que chamaram a atenção dos órgãos competentes e da sociedade para promover discussões na busca de soluções para esse mal. A partir desse movimento surgiu o “Setembro amarelo”.
Esse foi o tema do quadro bons conselhos desta semana, no programa de TV Em tuas mãos. Na entrevista, o sociólogo Benedito Carlos relatou onde ainda é preciso avançar em ações para diminuir os casos registrados e, se possível, zerar as ocorrências.
Segundo o sociólogo, apesar de recentes, já se percebem mudanças de postura dos gestores e da sociedade. Surgiram rodas de discussões com representantes das mais diferentes áreas, desde o setor saúde com a participação da comunidade acadêmica, envolvendo pesquisadores e sociólogos, assim como a própria sociedade. A entrevista evidenciou ainda a necessidade de se adotar ações emergenciais para barrar esse crescimento assustador de mortes em decorrência desse mal. No campo da pesquisa, o trabalho do sociólogo Benedito Carlos teve espaço e chamou a atenção para essa realidade negativa que convoca a sociedade para a formação de uma foça- tarefa.
“A minha pesquisa mostra que a prática do suicídio está matando mais que a dengue, aids, leishmaniose. Fiz uma comparação tendo como cenário os primeiros dez anos do século XXI e a triste constatação é que o suicídio chega a matar o dobro de pessoas se comparado com as mortes por aids. O registro foi de 562 suicídios , enquanto 384 pessoas morreram tendo como causa a aids. E a conclusão não é para que se reverta os recursos que estão sendo utilizados no combate à aids, mas alocar também verbas para a prevenção do suicídio”, explica.
Foram evidenciados números preocupantes e outra constatação é a de que Teresina registra mais ocorrências se comparadas às grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Para o sociólogo, se discute muito pouco o tema e para essa realidade mudar é necessário buscar interlocutores importantes como a mídia. “Ela têm o poder de atrair a atenção dos gestores públicos e com essa cobrança, eles tendem a realizar medidas. Claro que existem as dificuldades, já que a temática ainda é considerada um tabu. Há inclusive setores que defendem a não discussão do tema nos veículos, alegando que isso serviria para induzir pessoas que tenham comportamento suicida a cometer o ato. Essa teoria não tem fundamento científico, pois existe até um manual de prevenção ao suicídio para profissionais de mídia, elaborado pela Organização Mundial de Saúde”, atesta Benedito Carlos.
Mas trazendo essa discussão para o dia-a-dia dos indivíduos, é necessário adotar posturas cautelosas. O professor orienta que como se trata de um problema de saúde pública não há espaços para sensacionalismo. Na entrevista, ele lamentou o uso indevido das mídias como veículo de exposição da vítima e de seus familiares.
“É comum após essas ocorrências a disseminação de fotos nas redes. Isso não ajuda, só atrapalha e se o assunto não é tratado da forma correta, aí sim mais casos ganham notoriedade de forma incorreta”, alerta ele.
A sociedade também não pode esquecer de estar atenta, pois o problema é silencioso. Está em qualquer classe social. Não há distinção de raça e, apesar de os homens morrerem mais pela prática do suicídio, a mulher tenta mais.
“Se não forem adotadas medidas emergenciais, desde grupos de discussões a alocação de recursos para a criação de núcleos de apoio, é certo que daqui a pouco, quando as mulheres estiveram nas mesmas condições sociais e culturais que os homens, a proporção irá aumentar e consequentemente os dados. Portanto o assunto não pode ser colocado para debaixo do tapete. Discutindo se encontram soluções. Todos nós precisamos entender que a situação é grave, não se pode ocultar. A sociedade tem que se mobilizar para discutir não só no mês de setembro. Deve levar o tema para dentro das Igrejas e dos colégios. Com essas ações se começa a chamar a atenção das mídias e consequentemente dos gestores”.
Muitas vezes não se percebe a presença do problema no seio familiar, ou mesmo nos outros grupos que se integra, como entre amigos ou no trabalho e, nem sempre, o suicida dá sinais. E como é um problema que é multifatorial, com diversas causas o professor e sociólogo chama a atenção para a relação com a depressão. “Embora a ciência médica coloque que a depressão é um dos principais fatores, uma crise econômica ou conjugal também podem contribuir para que uma pessoa venha a pensar em dar fim à vida”, pontua.
Mas, de modo geral, a parte boa dessa análise é que as pessoas querem que aquele momento de sofrimento acabe. O desejo maior do indivíduo é que as dores e dificuldades passem e, por isso, o professor conclui em sua pesquisa que “devemos tratar mais sobre o assunto”.
Afinal aquela pessoa que está em sofrimento, com a ideia de por fim à vida, vai perceber que esse pensamento não passa só pela cabeça dela, mas pela cabeça de milhões de pessoas no mundo inteiro e com o compartilhamento de dados e de serviços especializados no amparo aqueles que estão carentes de informação é que se pode salvar uma vida.
“Há pelo menos o registro de um milhão de mortes por suicídio no mundo inteiro. E a pessoa não vai se sentir tentada a praticar o ato, afinal a reflexão é: o problema não é só meu. A pessoa vai é procurar ajuda”, reflete o pesquisador.
Aqui em Teresina o professor reforçou que existem serviços especializados como o Centro de Valorização à Vida (CVV) que ouve por telefone a pessoa que precisa de ajuda. No Lineu Araújo, centro de saúde pública, o indivíduo pode conversar com psicólogos e psiquiatras sem se identificar. Para o professor a informação ajuda para uma mudança de pensamento.
“Quando o indivíduo sabe desses recursos ele tende a buscar ajuda. Dividir suas dores, seus sofrimentos torna o peso menor. Afinal não é só o sofrimento emocional, há também o físico. A ciência também atesta que há outros fatores, como a deficiência de serotonina (é um neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade a dor, movimentos e as funções intelectuais. Quando ela se encontra numa baixa concentração, pode levar ao mau humor, dificuldade para dormir e vontade de comer o tempo todo, por exemplo) também pode contribuir para uma tendência ao suicídio. Então não é importante só o tratamento medicamentoso. Os médicos orientam, nesses casos, que é importante aliar atividades físicas, práticas de lazer, frequentar reuniões de grupos e nós aqui do Piauí somos privilegiados pois temos um remédio natural que é exposição aos raios solares. Algumas pesquisas afirmam que 75% dos brasileiros tem deficiência de vitamina D, ficamos mais tempo em salas com ar-condicionado, cobertos de protetor solar e esquecemos de nos expor aquele que é um colaborador importante, já que a carência de vitamina D está associada à depressão. Portanto vamos atender ao convite do nosso glorioso São Francisco e nos expormos mais ao amigo sol”, finaliza.
Com informações de Lívio Galeno
Por Vera Alice Brandão