Neste ano em que a Igreja nos convida a celebrarmos a misericórdia de Deus, somos motivados, por isso, a procurarmos conhecer ainda mais sobre o que é a misericórdia de Deus e como podemos experimentá-la e transmiti-la para os nossos irmãos. Para isso, tentaremos neste pequeno artigo, apresentar aos leitores uma maneira possível de podermos vivenciar a misericórdia do Senhor, mas, de maneira especial, tentaremos apresentar como a promoção ao respeito à dignidade da “pessoa humana”, pessoa esta, que é “imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1,27), é pode se configurar como um gesto concreto de vivenciar essa misericórdia.
Como sabemos a Igreja Católica sempre buscou ensinar e viver todos os ensinamentos do Senhor, isto é, todos os dez mandamentos dados por Ele através do seu servo Moisés, no monte Sinai, (Ex 20, 1-18). Todavia, Jesus, num gesto de amor e compreensão par com seus discípulos, sintetiza esses dez mandamentos em apenas dois mandamentos, a saber: “O primeiro mandamento é este: ‘Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força!’ E o segundo mandamento é: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo!’ Não existe outro mandamento maior do que estes” (cf. Mc 12, 29-31). É, justamente, neste último mandamento, que fundamentamos a importância da promoção da dignidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus, como uma maneira objetiva de buscarmos vivenciar a sua misericórdia de Deus, seja na nossa, seja na vida de nosso irmão. Mas o que é e como se dá a promoção da dignidade da pessoa humana?
Primeiramente, a Igreja reconhece que é o próprio Deus que mediante a sua encarnação que garante a veracidade dessa ação, pois é pela qual que Deus, todo onipotente, se faz pequeno ao habitar num corpo frágil do ser humano, justamente, para nos dar a certeza de que o homem é sim importante para Ele, pois Ele olha com misericórdia para a fraqueza de seus filhos, e como tal, merece ser respeitado e valorizado como pessoa. Isso também é o que nos afirma o CIC, no número 458, quando apresenta que: “O Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus. […] Deus enviou seu Filho Único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele’ (cf. 1 Jo 4,9)”. Não obstante, é esse mesmo “Verbo”, o Filho de Deus, que na ‘plenitude dos tempos’ (cf. Gl 4,4), quando tudo estava pronto segundo o plano de salvação é enviando pelo Pai para nascer da Virgem Maria e nos revelar, de modo definitivo, o amor e a misericórdia do Pai.
Destarte, é pela sua encarnação que Jesus sente misericórdia do homem, porque Ele sentiu também na sua própria carne a dor o sofrimento do ser humano qualquer, menos o erro do pecado. E é por causa da encarnação que Jesus reconhece um dos pontos principais da sua missão messiânica, que é a promoção da dignidade do ser humano, para o qual se utiliza das palavra do profeta Isaías e dize: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (cf. Is 4, 18-19).
Não obstante, podemos reconhecer essa missão de Jesus, também no documento do Papa Francisco Miserircordiae Vultus, N.8, onde ele diz: “Vendo que a multidão de pessoas que o seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do seu coração, uma intensa compaixão por elas (cf. Mt 9,36). Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que lhe foram apresentados (cf. Mt 15,37) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cf. Mt 15, 37). […] A própria vocação de Mateus se inseri no horizonte da misericórdia. Ao passar diante da banca de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o, pecador e publicano, para se tornar um dos Doze”. Com isso, através desse exemplo, fica claro para entendermos como a ação de práticas que levam para o melhoramento, a dignificação do homem são ações concretas da vivência da misericórdia de Deus.
Estes exemplos nos apresentam a preocupação do mestre em salvar a pessoa humana por inteiro, isto é, alma e corpo, não privilegiando, assim, nenhum lado, que favoreceria um dualismo, mas promovendo a valorização do ser humano por completo, isto é, libertando-o de seus sofrimentos mateiras e espirituais, e abrindo-os à um novo horizonte, fazendo com que eles sejam valorizados por completo. Pois Deus quer o homem por completo. Isto é o que nos confirma a Doutrina Social da Igreja, N. 129, quando afirma que: “O homem, portanto, tem duas diferentes características: é um ser material, ligado a este mundo mediante o seu corpo, e um ser espiritual, aberto à transcendência e à descoberta de ‘uma verdade mais profunda’, em razão de sua inteligência, com a qual participa ‘da luz da inteligência divina’”. Por sua vez, é pela fé na ressureição e na ascensão do Senhor Jesus que temos a absoluta certeza que o momento ápice da dignidade da pessoa humana é o retorno para junto de Deus, o seu criador, e com o coro dos anjos e dos santos, viver eternamente para louvar e adorar a Deus por toda a eternidade (cf. Mt 25, 21.31; Ap 22,5).
Por fim, concluo com as palavras dos bispos da América Latina e do Caribe, no Documento de Aparecida, N. 384, que diz: “[…] O amor de misericórdia para com todos que veem vulnerada sua vida em qualquer de suas dimensões, como bem nos mostra o Senhor em todos os seus gestos de misericórdia, requer que socorramos as necessidades urgentes, ao mesmo tempo que colaboremos com os outros organismos ou instituições para organizar estruturas mais justas nos âmbitos nacionais e internacionais. […] Igualmente, requerem-se novas estruturas que promovam uma autêntica convivência humana, que impeçam a prepotência de alguns e que facilitem o diálogo construtivo para os necessários consensos sociais”.
Wilson Pinto dos Santos Júnior,
Seminarista da Arquidiocese de teresina