O sacerdote diocesano por não pertencer a nenhuma congregação com regra de vida própria e carisma específico, parece estar sujeito à ausência de uma espiritualidade bem definida. Porém, o processo que leva à experiência varia muito. Os padres religiosos que vivem em institutos, congregações e ordens religiosas vivem uma espiritualidade mediada ou um modelo de espiritualidade de seus fundadores. O presbítero diocesano não vive essa mediação na sua espiritualidade, tendo, porém, como único modelo Jesus, Sacerdote Verdadeiro e Bom Pastor.
O Sacerdote Diocesano, apesar de não conformar-se a uma determinada expressão de espiritualidade, deve viver a sua vocação, o seu carisma e sua missão com profunda interioridade. Percebendo o Espírito a animar toda sua vida de pastor, correspondendo sempre à estatura de Cristo, que é o próprio Evangelho. Busca, portanto, cumprir santamente e com zelo pastoral a missão que Deus lhe confiou junto ao seu Bispo e a seus irmãos presbíteros. Aqui está sua espiritualidade, a entrega total, na ação e na contemplação, a porção da Igreja em que exerce o seu pastoreio, unido ao bispo e todo presbitério, primeira comunidade da diocese.
O Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, refletindo a fundo a espiritualidade do clérigo diocesano, afirma que essa espiritualidade deva ser fundada na configuração do coração ao Coração do “Bom Pastor”, aquele que vai ao encontro da ovelha onde quer que ela esteja.
Os padres religiosos, como mencionado, vivem a priori um aspecto da espiritualidade de Jesus, à inspiração de seus fundadores e modelos. A priori, pois com as renovações do Concílio Vaticano II, grande parte do clero religioso tem vivido a mesma espiritualidade integral e integradora do padre diocesano. Cada vez menos na comodidade das casas comunitárias e assumindo cada vez mais os desafios de uma autêntica inserção junto ao povo. Tal aproximação do povo vai além, sob muitas perspectivas, do carisma e vivência espiritual de seus fundadores e modelos de espiritualidade.
Procurando viver em plenitude a espiritualidade do Mestre Jesus, o ideal do pastor se assimila ao do Apóstolo Paulo: “não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Ao povo de Deus, confiado ao padre diocesano pelo ministério que lhe é confiado, interessa precisamente essa identidade com Jesus Cristo. Pois é a luz dessa busca de identificação ao Eterno Sacerdote, que o padre diocesano conduz seu rebanho às paragens deste Bom Pastor.
O Diretório para o Ministério e a Vida do Presbítero, de 2013, publicado pela Congregação para o Clero, destaca que “na atual fase da vida” da Igreja e da sociedade, o presbítero é chamado a viver em profundidade o seu ministério. Tendo em vista as profundas, numerosas e delicadas exigências do serviço da Igreja. Exigências não só de ordem pastoral, mas também social e cultural, às quais deve responder com prudência e caridade pastoral.
Na certeza da presença de Deus, sempre fecunda e ativa na vida da Igreja, repousa a esperança da convocação de abundantes e santas vocações sacerdotais, fieis ao Verdadeiro Pastor. Esta certeza de que o Senhor não faltará à sua Igreja, com a luz necessária para afrontar a aventura apaixonante de lançar redes ao largo, muitos avançam sobre as pegadas de Jesus. Estão, assim, empenhados nos diversos campos do apostolado, que requerem generosidade e dedicação completa, preparação intelectual e, sobretudo, uma vida espiritual amadurecida e profunda, enraizada na caridade pastoral. É esta a sua via para a santidade, que constitui também um autêntico serviço ao rebanho que pastoreia. Por conseguinte, o sacerdote se configura de tal maneira a Missão de Cristo na vida da Igreja, que no dom total de si, se lança nos desafios da evangelização.
Márcio Reis B. Figueiredo
Seminarista da diocese de Bom Jesus