É a CONFIANÇA
e nada além da confiança
que deve nos conduzir ao Amor! (S. Teresinha)
Foi no ano passado que em 15 de outubro de 2023, na Festa da Santa Madre Teresa de Ávila, que ocorreu o oferecimento de um presente da parte do Santo Padre o Papa Francisco para toda a Igreja, uma joia em forma de Exortação Apostólica chamada: Cést la confiance, por ocasião dos 150 anos do nascimento de Marie-Françoise-Thérèse Martin no dia 02 de outubro de 1873 na bela cidade de Alençon na França.
Nesta Exortação Apostólica o Papa Francisco quis destacar dentre tantos tesouros na vida de Santa Teresinha justamente o aspecto fulcral da Confiança. Confiança certamente que implica o conhecimento de em quem lançamos tamanha expectativa e assim, “é a CONFIANÇA e nada além da confiança que deve nos conduzir ao Amor!” (S. Teresinha), “essas palavras tão incisivas (diz o Santo Padre), dizem tudo, sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o fato de ter sido declarada Doutora da Igreja (à 19 de outubro de 1997 em Roma por São Joao Paulo II). Só a confiança e ‘nada mais’… Não há outra via que devamos percorrer para sermos conduzidos ao Amor que tudo dá”.
A confiança é fruto de nossa docilidade à atração que o Amor causa em nós e deve ser o distintivo daquelas e daqueles que nos sentimos atraídos por este Amor que é Deus (1Jo 4,8-16). Atraídos por Ele deveremos nós nos tornar mediadores desta atração na vida de tantos outros com os quais convivemos, e nisto a certeza de que só poderemos oferecer daquilo que possuímos ou melhor, oferecer Aquele que nos possui não como servos e sim como sendo seus amigos e amigas (Jo 15,15). Deste aspecto, oferecer Aquele que quer realizar também, por nós e em nós o Dom da Salvação, depreende a convicção de que sozinhos não somos suficientes. A Seara é do Senhor, a Igreja é dEle, o Reino é Seu e nós deveremos nos comportar humildemente como foram a Virgem Santíssima, o Glorioso São José, os Santos Apóstolos, Santa Teresa, São João da Cruz, Santa Dulce dos Pobres, Pe. Pedro Balzzi, Madre Trindade e tantos outros, e como Santa Teresinha deveremos rezar: “Eis a minha oração. Peço a Jesus que me atraia para as chamas do Seu Amor, que me una tão estreitamente a Ele, que Ele viva e aja em mim. Estou certa de que quanto mais o fogo do amor inflamar meu coração, tanto mais direi: ‘Atraí-me’; e mais as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacinho de ferro inútil, se eu me afastasse do braseiro divino), mais essas almas correrão rapidamente para o odor das fragrâncias de seu Bem-Amado, pois uma alma inflamada de amor não pode permanecer inativa”.
Neste recorte o Sumo Pontífice nos alerta, usando a mística e teologia da Igreja revelada na Jovem Florzinha Branca do Carmelo, que nós não podemos sucumbir à frieza ilusória do autorreferencialismo que nos leva a fixar o olhar em nós mesmos e em nossas condutas rígidas: “Do céu à terra, a atualidade de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face permanece em toda a sua “pequena grandeza”. Em um tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom. Em um período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica. Em uma época de individualismo, ela nos faz descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Em um momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Em um tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela nos ensina a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro. Em um momento de complexidade, ela pode nos ajudar a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho. Em um tempo de entrincheiramento e reclusão, Teresinha nos convida à saída missionária, conquistados pela atração de Jesus Cristo e do Evangelho”.
Assim como Santa Teresinha, curada pelo Sorriso de Maria e convertida em seu “Natal de 1886” precisamos ser curados dos escrúpulos que nos aprisionam em nós e em regras opressoras, e convertidos para que possamos como verdadeiras crianças confiar nAquele que nos ama e com Seu Amor nos corrige e nos faz dia a dia mais maduros e melhores segundo suas próprias medidas isso tudo “para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” e também, “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais pessoas inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos seres humanos que, com astúcia, enganam fraudulosamente (Ef 3 – 4), como tantos que vivem sob o impulso de heresias novas e antigas como o Jansenismo que querem um Deus só pra si e nunca ofertado a todos como nos revelou o Pai na Cruz do Filho e que tem vencido as intempéries dos séculos enviando-nos Seu Espírito que nos faz reviver tudo o que nos foi ensinado na plenitude dos Tempos (Gl 4) e o Catarismo que põe em seus atos externos a garantia de uma vida salva.
Diferentemente destas posturas e de outras mais, ou seja, com uma postura de entrega madura e dócil é que nasceu a Pequena Via ou a Infância Espiritual no coração de Teresa de Lisieux e que Deus, por Ela, oferece a toda a Igreja para que entendamos que se não podemos ser como os grandes santos pelos quais o Senhor realizou tantos e extraordinários feitos, Ele poderá realizar em nós aquilo que lhe aprouver sempre para o bem de todos e de Sua Noiva – a Santa Igreja, basta que nos abramos humildemente à Sua ação criativa e generosa. “Posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade”. “O elevador que me há de elevar ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso, não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena”. Vê-se pequena, lembra-nos o Santo Papa, incapaz de cofiar em si mesma, mas confiante no poder amoroso dos Braços do Senhor.
Queridas irmãs e irmãos, desejo que chegue ao nosso coração a certeza de que a passagem das relíquias de Primeiro Grau de Santa Teresinha deve nos levar a um exame de consciência quanto ao nosso amor pela Igreja e perceber como entre nós tem sido presente, em especial nos mais jovens, mas não menos nos adultos, a nefasta fumaça da divisão, da insolência e do desrespeito em especial com o Santo Padre e com os senhores bispos, por parte de alguns poucos (graças a Deus) cardeais, bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, leigos e leigas, e que grande mal espiritual isto tem nos causado! Santa Teresinha chega mesmo a rezar em sua Oração pelos sacerdotes (que eu estendo a todos nós) pedindo que o amor de Deus nos proteja e nos preserve do contágio do mundo.
Sei que a fé é um ato inteligente, por isso podemos sim, questionar, querer entender e até, em certa medida, discordar, isso é compreensível, o que é inaceitável e paradoxal à Fé Católica são os atos de escandaloso desrespeito e de irresponsável uso das redes sociais no tocante a estes atos de fechamento e distanciamento a uma das Brancuras da Igreja como dizia São João Bosco. Pior ainda é ante o desejo de querer saber mais e melhor nos fecharmos numa atitude contumaz à resposta que a Igreja nos oferece sempre calcada nas Escrituras, na Rica Tradição e no autorizado Magistério (o Papa e os bispos em comunhão com ele), e diante disso me pergunto se alguém que não crer como nós cremos será que essa pessoa se animaria a abraçar a fé vendo o que infelizmente é disseminado no mundo da internet e nos meios de comunicação?! A prudência, dizia Santo Agostinho, é um amor que escolhe com sagacidade ou como dizia o filósofo Pitágoras: é o olho de todas as virtudes.
Deste modo lembremos que a própria Teresinha se lançou aos pés do Papa de sua época, o Papa leão XIII, com seu desejo de entrar com quinze anos no Carmelo e dele ouviu aceitando, mesmo triste, o que o Pontífice lhe dissera como ela mesmo narrou em sua História de uma alma, uma como que síntese do espírito cristão-católico: “Então, minha filha, respondeu o Santo Padre, olhando-me com bondade, fazei o que os superiores vos disserem.” Nisto vemos a compreensão de que Deus nos fala por nossos superiores e que nada se sustenta num terreno de desrespeito e de falta de comunhão. Não nos apeguemos confiada e cegamente aos gestos, às exterioridades que são passiveis de mudanças ao longo dos séculos, realidades que muitas vezes só brilham para fora e pouco iluminam o interior de cada ser humano, mas ao contrário, abramo-nos à novidade criativa que o Amor inspira ao longo dos milênios no Seu Corpo Místico do qual Ele é a Cabeça e nós somos seus membros, e que por Vontade Divina instituiu na Sua Igreja a Hierarquia para nos pastorear e nos ajudar em nosso discernimento espiritual e existencial (Mt 18, 15-20). Fixemos nosso olhar e coração no que não passa e no que é essencial: Cristo Jesus, Filho de Deus, nosso Senhor e nosso Guia Supremo e Salvador (At 5, 29-30).
Não há vivência espiritual isoladamente, o que eu creio é fruto da fé de uma comunidade que nos antecedeu e que nos acolheu no dia do nosso Batismo.
Oxalá Deus possamos como Teresinha, uma legítima filha de Santa Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, pulsar com a Igreja ao ponto de proferir com a vida e se necessário com as palavras o seu belo hino de amor ao Senhor e à Sua Igreja, deste modo me despeço hoje, fisicamente falando, daquela que me acompanha desde o ano de 1998 quando a mesma santinha me recobrou o entusiasmo vocaional e me fez sentir novamente o calor da atração que o Mestre causa em todos nós, com ela e os senhores e senhoras eu desejo dizer:
“Considerando o corpo místico da Igreja, não me reconheci em nenhum dos membros descritos por São Paulo; ou melhor, eu queria me reconhecer em todos… A Caridade me deu a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja tinha um corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os Apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires se recusariam a derramar seu sangue… Compreendi que o Amor continha todas as vocações, que o Amor é tudo, que abraça todos os tempos e todos os lugares… em uma palavra, que é Eterno! Então, em um transporte de alegria delirante, exclamei: ‘Ó Jesus, meu Amor, encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor!’. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes vós que me destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor. Assim serei tudo…, assim o meu sonho será realizado!”
Pe. Fabio Carvalho Fernandes
Teresina, Piauí
16 de abril de 2023