Na manhã desta quarta-feira (10), o Centro Maria Imaculada (CMI), serviço de atenção à saúde vinculado à Ação Social Arquidiocesana (ASA), participou de uma Roda de Conversa, seguida pela abertura da Exposição de Artes Visuais em alusão a campanha nacional Janeiro Roxo. A ação aconteceu no Museu do Piauí com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a sociedade em geral acerca do cuidado à saúde de pessoas acometidas pela hanseníase.
Com o tema principal “Rede que Ventila-Dor: Ciência e arte em prol da sensibilização e mobilização das pessoas acerca da hanseníase”, a iniciativa foi idealizada pelo professor de Saúde Coletiva da UFPI e Supervisor da Plataforma Multidisciplinar de Políticas de Saúde do CIATEN, Profº. Dr. Fábio Solon, e pela enfermeira Olívia Dias, com o apoio de uma rede de parceiros além do CMI e da Universidade Federal do Piauí: Governo do Estado, Fundação Municipal de Saúde, Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciados (CIATEN), Morhan Piauí (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) e a NHR Brasil.
Sara Moura, coordenadora do Centro, afirma que essas ações durante todo o mês de janeiro propõem ajudar no combate à hanseníase, já que ainda é uma doença negligenciada e pouco debatida. “Essa campanha dá voz e visibilidade a uma causa muito importante, para que as pessoas que são atingidas por esta enfermidade possam ter qualidade de vida e se sintam acolhidas em nosso meio social”, destacou.
Exposição de Artes Visuais
A exposição foi dividida em quatro estações, apresentando temáticas diferentes por meio de 73 telas. A primeira trouxe como tema ‘Quem sou eu e o que tenho a dizer?’, tratando a representação da concepção de saúde de pessoas acometidas pela hanseníase, a fim de servir como identificação de elementos que subsidiam o processo de cuidado.
Paulo Rodrigues, vice- coordenador do MOHAN Piauí e paciente do CMI, teve duas de suas obras expostas na primeira estação. Agora curado da hanseníase, Paulo leu um de seus poemas durante a roda de conversa, que falava sobre toda a sua trajetória de diagnóstico, tratamento e cura. “As poesias são como um diário mostrando tudo aquilo que eu já vivi e superei”, contou.
Para ele, pintar as telas foi uma experiência incrível desde o início, onde os pacientes eram sempre motivados a representar os seus sentimentos através da arte. “Como agora estou na fase de reabilitação da doença, eu consigo ver tudo isso com outros olhos e isso também demonstra a nossa transformação de tudo aquilo que eu fui e tudo aquilo que eu sou hoje”, pontuou.
Já a estação 2 ‘Pintando a vida’, trouxe o registro fotográfico de Osmar Prado em uma ação coletiva realizada no próprio CMI, onde o grupo de participantes (gestores, técnicos, profissionais de saúde e áreas afins) foram convidados a refletir sobre a concepção de seu “fazer em saúde”, ancorada na utilização de símbolos e na disseminação de significados relacionados a essa prática.
‘Faces invisíveis’ foi o tema da estação 3, onde as telas foram produzidas pelo estudante de Medicina da UFPI, Davi Kauan. O jovem relata que iniciou o projeto após uma pesquisa qualitativa em saúde, onde foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, além da visitação e do acompanhamento da rotina de centros direcionados para o cuidado de pessoas atingidas pela doença.
“Inicialmente eu fui convidado pelo professor Fábio Solon que também é meu orientador no Projeto de Iniciação Científica, para conhecer e participar de visitas ao CMI. Foi aí que partiu a ideia de fazer esse projeto em que através desse convívio, nós montamos um relato por meio da arte, levando a informação e o debate sobre essa doença que ainda é muito estigmatizada nos dias de hoje”, destacou o estudante.
Após os encontros, Davi produziu versões de sentido contando com os recursos do desenho. O roteiro da exposição e as obras partiram das afetações geradas, e por isso ele decidiu dividir suas obras em duas partes: conhecendo as pessoas atingidas pela hanseníase e suas dores (estigma social, saúde mental, autoestima) e o primeiro contato com a hanseníase (sintomas, diagnóstico, tratamento).
O professor Fábio é responsável pelas telas expostas na quarta e última estação. Com o tema ‘Quando a mancha vira arte’ os visitantes ficaram em uma sala completamente escura e utilizaram pequenas lanternas para conferir as obras com mais detalhes. Ele conta que sempre realizou pesquisas na área, mas isso ficava restrito a uma pequena parcela da população. E foi enquanto artista visual, através da pintura, que ele conseguiu aproximar a sociedade a essa temática.
“A temática da hanseníase me afetou quando eu fui ao serviço e tive contato com pessoas atingidas pela doença. Muitas das vezes eu não sabia o que fazer e acabei adquirindo essa motivação de me aproximar das histórias e promover saúde”, disse.
Fábio também aproveitou para explicar que a arte é uma das melhores formas de colocar a pauta em evidência, já que outras pessoas, externas ao meio acadêmico, poderiam ter acesso direto e se deixar reagir e explorar os sentimentos. “Nós juntamos o útil ao agradável, utilizamos as evidências científicas e a disseminação do conhecimento através da arte”, completou o professor.
As obras ficarão expostas até o dia 20 de janeiro no Museu do Piauí, no Centro de Teresina, de terça à sexta-feira no horário de 08h às 17h, aos sábados e domingo das 08h ao meio-dia.
Outras ações do Janeiro Roxo
Ao longo de todo o mês serão realizadas diversas atividades em alusão ao “Janeiro Roxo”. Nesta sexta-feira, dia 12 de janeiro, haverá uma oficina de autocuidado para pessoas atingidas pela hanseníase nas UBSs Valdinar Pereira, localizada no bairro Mocambinho, e Santa Bárbara, localizada na região do Santa Bárbara.
No dia 17, vai acontecer o Seminário Piauiense de Hanseníase, e no dia 24 a Reunião de Mobilização dos ACSs na região da Santa Maria da Codipi. No dia 25, será realizada uma roda de conversa nas salas de espera das UBSs do Parque Brasil, Santa Maria da Codipi, Parque Wall Ferraz, Monte Verde e Monte Alegre.
Já no dia 26 de janeiro serão feitas avaliações de contatos domiciliares em casos de hanseníase na UBS Santa Maria da Codipi. E para encerrar as atividades do mês, no dia 27 haverá o Mutirão e no dia 30, uma oficina de qualificação do plano estadual de enfrentamento para DTMs.