Pe. Amarildo da Silva Pontes
“Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38);
“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe…” (Jo 19,25).
Estamos vivenciando o mês de maio; ele é dedicado de forma muito especial a Maria, a mãe de Jesus.
Dedicar um tempo à reflexão sobre Nossa Senhora, é estar disponível a fazer um itinerário sobre sua maternidade e doação total a Deus, que teve início no sim dado a Deus através do Anjo Gabriel: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), e chega ao seu ápice no Calvário, perto da cruz de Jesus. “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe” (Jo 19,25a).
Do sim em Nazaré, no episódio da anunciação ao sim no pé da cruz, quando ela acolhe o discípulo amado, é o mesmo e único sim ao projeto de Deus em favor da salvação de toda a humanidade, manifestado na encarnação do Verbo Divino. “Quando, porém, chegou à plenitude dos tempos, enviou Deus o seu filho, nascido de mulher” (Gl 4,4); “pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
A resposta de Maria ao plano da salvação querido por Deus, passou pela provação no diálogo da Jovem de Nazaré com seu noivo José. Os dois aceitaram a vontade de Deus – “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo… José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher” (Mt 1,20.24). Uma resposta de amor ao Amor (cf. 1Jo 4,8).
Um amor que acreditou e correu apressadamente à casa de Zacarias; entrou e que se manifestou a João, o Batista, ainda no ventre de Izabel, deixando-a repleta do Espírito Santo (cf. Lc 1,41); que enfrentou as limitações de uma gravidez, e percorreu o longo caminho até Belém, onde numa noite santa, a Virgem Mãe, deu à luz o Salvador.
O cântico dos anjos ainda ressoava quando a família de Nazaré precisou fugir para o Egito. A alegria daquela noite e o hino de “glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2,14), cantado pelos anjos, foi substituído pelo choro e pela dor das mães que tiveram seus filhos assassinados por ordem de Herodes (cf. Mt 2,16). “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos; e não quer consolação, porque eles já não existem” (Mt 2,18).
Após causar muita dor e sofrimento, também morre o rei Herodes. É chegado o tempo para Maria, José e o Menino Jesus retornarem do Egito. Esse é o período em que os pais acompanham a infância de seu Filho. É um espaço de tempo de sua história, que pouco conteúdo encontramos nos Evangelhos escritos.
O evangelista Mateus dar um salto na sua narrativa: do retorno do Egito, para o batismo de Jesus no Rio Jordão. Já Marcos, inicia sua narrativa a partir da pregação de João Batista e o batismo de Jesus. Lucas, no entanto, é o evangelista que mais detalha esse espaço de tempo da vida de Jesus, reservando-lhe todo o segundo capítulo de seu evangelho, no qual, encontramos também os pais de Jesus acompanhando o seu crescimento e instruindo seus primeiros anos de vida.
Vejamos o que Lucas escreve. Após o nascimento de Jesus, o evangelista apresenta como os pais de Jesus são fiéis à Lei, e cumprem o que ela estabelece: a) levam o menino para ser circuncidado e dão-lhe o nome de Jesus (cf. Lc 2,21); e, b) conduzem Jesus ao templo para apresentá-lo e oferecer o que estava prescrito (cf. Lc 2,22-24). É no templo que Simeão profetiza a Maria, a mãe de Jesus: “Eis que este menino foi posto para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição – e a ti, uma espada traspassará tua alma! – Para que se revelem os pensamentos íntimos de muitos corações” (Lc 2,34-35).
Desse período da vida de Jesus, Lucas ainda nos mostra que seguindo o costume de seu povo, os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa da páscoa. Segundo o costume, quando Jesus completou seus doze anos, também subiu com eles (cf. Lc 2,41-42). Nessa ocasião, quando visitava o Templo, Jesus juntou-se aos doutores e iniciou com eles um grande discurso, coisa de quase cinco dias. Isso mesmo que você leu: cinco dias (cf. Lc 2,23-46).
A preocupação amorosa de uma mãe leva Maria a “advertir” seu Filho – “Meu filho, por agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48b). Mas Jesus revela a seus pais que é preciso compreender que aquela situação assinalava a sua missão. O zelo com as coisas de seu Pai. “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49).
Veja que viver o mês de maio dedicado a Maria, exige que continuemos a leitura dos relatos nos evangelhos que mostram Maria, a mãe de Jesus, fiel ao seu sim a Deus, e acompanha o seu Filho. Agora vamos acompanhá-la na vida pública de Jesus.
O primeiro aceno é apresentado por João, no quarto evangelho. Ele nos leva a uma festa de casamento em Caná da Galileia. Entre os convidados, Maria estava presente, e Jesus também havia sido convidado. Ela parece ser íntima do casal e da sua família, pois tomou conhecimento de uma necessidade que com certeza era reservada aos mais íntimos, a falta de vinho naquela festa (cf. Jo 2,1-5).
Antes de continuarmos, vamos voltar ao evangelho de Lucas, e quero que você recorde algumas das palavras pronunciadas por Isabel quando Maria chegou em sua casa e a cumprimentou. Disse Isabel: “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45).
Maria é aquela que acreditou! Ela tem acompanhado seu Filho que cresceu, tornou-se homem. Que já reúne entorno de si um grupo de pessoas que está seguindo seus passos e seus ensinamentos. Ela demonstra sua fé Naquele que lhe fez uma proposta e que ela respondeu com seu sim. No diálogo com Jesus sobre a falta de vinho, ela diz que Israel ainda acredita. “‘Enchei as talhas de água’. Eles encheram até à borda” (Jo 2,7). E água que se tinha transformada em vinho, é o sinal amor que veio para dá-se sem medida. Que fez os discípulos crerem naquele que estão seguindo (cf. Jo 2,6-11).
Com atenção e ainda fazendo referência às palavras que Isabel dirigiu a Maria, encontramos uma cena que tem grande relevância para os discípulos de todos os tempos. A sua expressividade é mostrada nos evangelhos de Mateus (12,46-50), Marcos (3,32-35) e Lucas (8,19-21). Jesus olha para aqueles estão lhe ouvindo e diz: “Minha mãe e meus irmãos, são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21).
É o convite para sermos parte de sua família. Ser seu discípulo é tomar parte com Ele no plano de amor que Deus tem para todos nós. É ouvir como Maria e seguir como os discípulos: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); “Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram” (Mt 4,22).
Pergunto: Você já havia pensado que o mês de maio, dedicado a Maria, a mãe de Jesus, deve nos ajudar a refletir sobre todo esse caminho que já fizemos até aqui? Mas ainda precisamos seguir o percurso até o Calvário, onde vai terminar a nossa reflexão.
No entanto, não podemos esquecer que os Atos dos Apóstolos, também apresentam Maria, a mãe de Jesus, firme no seu sim até o fim de sua permanência física na terra. Mas essa reflexão ficará para um outro momento. Vamos! Sigamos para encontrá-la perto da cruz de Jesus.
Estamos chegando à parte final do nosso itinerário, onde temos acompanhado Maria, a mãe de Jesus, da cidade de Nazaré até o início do “calvário” de Jesus. Os relatos da paixão de seu Filho são apresentados pelos evangelistas, ora com riqueza de detalhes; ora com poucos, mesmo que todos eles tenham escrito em dois capítulos.
Mateus reserva os capítulos 26 e 27, que vai da conspiração contra Jesus a guarda do túmulo. Marcos vai falar dos acontecimentos da paixão de Jesus, a saber, os capítulos 14 e 15, que também tem início com a conspiração contra Jesus e segue até o sepultamento.
Lucas também ocupa os capítulos 22 e 23, do seu evangelho para particularizar os episódios da paixão do Filho de Deus. Já no início da narrativa é possível perceber que ele escreve com mais detalhes que os anteriores, pois acrescenta a conspiração contra Jesus, a traição de Judas, mas conclui como Marcos, com o sepultamento.
O quarto evangelho, apresenta os eventos da paixão de Jesus nos capítulos 18 e 19. Em João, a paixão de Jesus tem seu ponto de partido com a prisão de Jesus e termina também o sepultamento.
Você deve estar se perguntando: onde está Maria, a mãe de Jesus? Respondo: Ela é companheira da agonia do seu Filho. Como vimos desde o início, Maria esteve sempre presente na história salvadora da humanidade, que pelo seu sim, veio habitar entre os homens.
É uma particularidade do evangelista João, destacar que entres aqueles que estavam no Calvário, perto da cruz de Jesus, “permaneciam de pé sua mãe, a irmãs de sua mãe…” (Jo 19,25).
“Jesus, então, vendo a mãe e perto dela, o discípulo a quem amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,26-27). De fato, do sim a Deus, através do Anjo Gabriel, ao sim no pé da cruz, quando acolhe e é acolhida pelo discípulo amado, ela acolhe também a todos nós como seus filhos e irmãos em seu Filho.
Rezar o mês de maio refletindo sobre Maria, a mãe de Jesus, é acolhê-la como discípulos amados de seu Filho, tendo aos nossos olhos e no nosso coração todo o amor de Deus pela humanidade, encarnado em Jesus Cristo.
Não deve ser apenas um ato devocional, mas fruto de uma grande intimidade com a vontade de Deus revelada nas Sagradas Escrituras. É encontrar nelas a fundamentação da nossa fé, que não nasceu de um conto de fadas ou do achismo, mas que foi e continua sendo efetivada pela presença da trindade no seio da Igreja de Cristo.
Que na força do Espírito Santo, não nos falte o auxílio necessário pela intercessão de Maria, a mãe de Jesus, junto ao seu Filho amado. Nosso sumo e eterno intercessor junto ao Pai.