“Vinde, Senhor Jesus! (Ap 22, 20)”
Caríssimos irmãos, a súplica das comunidades primitivas expressa no Apocalipse ecoará em breve pelos nossos lábios. No domingo, 28 de novembro, iniciaremos o Tempo do Advento, tempo favorável de expectativa e preparação para receber o Cristo que nasce na grande Solenidade do Natal. Depois de finalizarmos o Ano Litúrgico no domingo, 21, com a Solenidade de Cristo Rei do Universo, adentraremos um novo Ano, um novo ciclo de celebrações em torno do Mistério Pascal, fonte de vida para toda a Igreja.
Com o evangelista Lucas, o autor privilegiado das leituras do novo Ano Litúrgico que se aproxima, o Ano C, faremos nossa caminhada reflexiva aos domingos. A palavra Advento em sua raiz significa “vinda”. Vinda dupla, que o Tempo do Advento trabalha: a primeira, quando o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós, e a segunda, quando virá nas nuvens com grande poder e glória. Neste primeiro domingo do Advento, o destaque será feito à segunda. Com uma linguagem que chamamos de escatológica, o autor apresenta o discurso do Mestre em termos estranhos e ameaçadores, num tom dramático. Poderíamos falar de modo muito simples que Jesus está descrevendo o “fim do mundo”. Algo bem distante, na compreensão geral. Um evento do qual ninguém sabe o dia nem a hora. Fato é que ninguém, nem a própria Igreja, soube ainda explicar claramente este tipo de discurso de Jesus. Mas sabemos que acontecerá um fato, e isso é o mais importante. Não é saber quando será, mas o que será.
E qual é o fato? A sua segunda vinda. O Senhor veio uma primeira vez e virá uma segunda no futuro. É artigo de fé, proclamado desde os primeiros anos do cristianismo. Professamos no Credo: “Está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. O Reino de Deus está no meio de nós, já é presença na pessoa de Cristo e através de sua Igreja. Não apenas podemos vê-lo, mas estamos nele. O futuro já começou. Graças à ressurreição de Jesus, a vida futura está à nossa disposição. Embora os termos usados por ele em sua pregação falem de sinais no sol, na lua e nas estrelas, angústia entre as nações e pavor diante do movimento do mar e das ondas, não devemos nos amedrontar. Sim, o Evangelho de hoje não deve nos provocar medo! A segunda vinda de nosso Senhor é uma promessa, não uma ameaça. É a promessa na qual está fundada toda a virtude da esperança cristã. Irmã gêmea da fé, ela nos faz crer e confiar em Deus em vista do que vem. Costuma-se representar a esperança com a imagem de uma âncora, mas seria melhor representava pela vela de um barco. A âncora firma a embarcação num determinado ponto do mar; já a vela serve para impulsionar o barco para frente, o faz correr sobre as águas, tranquilas ou não, em direção à terra. A esperança é aquela que nos lança, nos desinstala, nos tira do lugar. Se ela não existisse, tudo pararia. E estagnação não rima com o cristão.
Nesse sentido as andorinhas podem nos ensinar bastante. Em seus movimentos migratórios, podem ser avistadas nos meios urbanos pousadas sobre os fio elétricos sustentados pelos postes. Várias delas, inúmeras, avezinhas que se equilibram no meio do vazio, do qual só podem sair se abrirem as asas para voar. Nós, cristãos, estamos na mesma situação das andorinhas, embora mais inseguros. Somos todos pássaros migratórios, sem morada fixa, agarrados a fios um ao lado do outro, envoltos pela imensidão do vazio que se abre diante de nós. Um aqui e acolá levanta vôo e desaparece no horizonte. Para alguns, pareceram morrer. Mas para onde vão? A Palavra de Deus é clara quanto ao que virá. Nada deste mundo é permanente. Um dia nossas penas não serão capazes de nos carregar e seremos arrastados pelo vento da morte. Mas também a Palavra é clara quanto a outra coisa: enquanto estamos apoiados no “fio” da existência, podemos agir. Entrar no Reino, crescer, se preparar para este grande passo, de um modo livre, alegre e decidido, como o passarinho que levanta seu vôo em direção ao sol, em busca do calor reconfortante.
Este “SOL” é Jesus. Vigiemos! O Advento nos educa a manter a vigilância esperançosa do cristão. Atentemos bem, para estarmos de pé e de cabeça erguida, pois se aproxima a plena libertação conquistada por Cristo para nós. Libertação proclamada por toda a assembleia cada vez que na missa, após a consagração do pão e do vinho, se diz a uma só voz: “Anunciamos, Senhor a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”
Seminarista Yago Waquim
Arquidiocese de Teresina