Das tantas orientações e determinações eclesiais para conter o avanço do Covid-19 encontra-se a de não se receber a Sagrada Comunhão Eucarística diretamente da boca. Sabe-se que uma das formas de transmissão do referido vírus é por meio de gotículas de saliva. Por isso a razão da prescrição de se comungar diretamente na mão.
Agora, é comum encontrar pessoas mais piedosas que rejeitam esta orientação. Muitas consideram que receber a Comunhão na mão é desprezar o Corpo de Cristo, pisoteá-lo. No entanto, é bom recordar que até o século IX, esta era a única forma de se receber a Sagrada Eucaristia. Por conta de certo laxismo e irreverência entorno da presença real de Cristo nas Espécies Eucarísticas é que se foi estabelecendo a Comunhão na boca e diretamente na língua como única forma de receber a Eucaristia. Isso perdurou até o Papa São Paulo VI, que readimitiu a possibilidade de se receber a Comunhão na mão com base no texto de São Cirilo de Jerusalém, do Século II, que diz:
“Quando te aproximares, não caminhes com as mãos estendidas ou os dedos separados, mas faze com a esquerda um trono para a direita, que está para receber o Rei; e logo, com a palma da mão, forma um recipiente; recolhe o corpo do Senhor, e dize: “Amém”. A seguir, santifica com todo o cuidado teus olhos pelo contato do Corpo Sagrado, e toma-o. Contudo cuida de que nada caia por terra, pois, o que caísse, tu o perderias como se fossem teus próprios membros. Responde-me: se alguém te houvesse dado ouro em pó, não o guardarias com todo o esmero e não tomarias cuidado para que não te caísse das mãos e para que nada se perdesse? Sendo assim, não deves com muito esmero cuidar de que não caia nem uma migalha daquilo que é mais preciso do que o ouro e as pedras preciosas?” (São Cirilo de Jerusalém, sobre a eucaristia, Catequese Mistagógica V 21 s).
A questão, portanto, não é tratar a Comunhão recebida na mão como uma forma indigna de comungar. Será nossa língua digna de receber o Corpo de Cristo? Aos que julgam-na mais digna, peço que leiam o Capítulo 3 da Carta de São Tiago.
O mais importante é nunca perder o senso de piedade e reverência a Jesus Sacramentado. E, sobretudo, reconhecer que a Eucaristia não nos pode fazer alheios às dores da humanidade, pois há grande risco de comungar nossa própria condenação se nós esquecemos de comungar as dores e sofrimentos de nossos irmãos (cf. 1 Cor 11, 17-34)
Pe. Rubens Chaves