O Dia Nacional em Defesa dos Direitos das pessoas em situação de Rua foi celebrado solenemente no Piauí. Em sessão provocada pela Pastoral do Povo de Rua, a Assembleia Legislativa do Estado (ALEPI) promoveu uma sessão especial de reconhecimento pelo trabalho da Pastoral da Arquidiocese de Teresina. O momento aconteceu na manhã de segunda-feira, 19 de agosto.
Além dos deputados e autoridades, estiveram presentes alguns convidados especiais, representando as Comunidades Terapêuticas de Teresina, membros dos grupos e ONGs. Na composição da mesa de honra, o Arcebispo de Teresina, Dom Jacinto Brito, o coordenador da pastoral, padre João Paulo Carvalho e um representante das pessoas em situação de risco, Santiago.
“Sentimos na pele o que é a falta de serviços e políticas públicas efetivas para o nosso atendimento, pois somos invisíveis na garantia dos nossos direitos. Temos muitos medos, mas o principal medo da gente é o medo da violência e da morte, pois dormir nas ruas é um ato de coragem, temos inimigos de todos os lados. Entre nós mesmos e, principalmente, de quem deveria nos proteger. Estamos expostos a tudo que está em nossa volta. Somos gratos ao padre João Paulo por nos receber. Lá na pastoral encontramos apoio, acolhimento, atividades de palestras, espiritualidade e alimentação. Lá a gente se sente um pouco mais humano e mais digno”, disse Santiago em seu pronunciamento na tribuna da ALEPI.
Segundo o representante do grupo assistido pela pastoral de rua, são vários os motivos que levam um cidadão a se tornar um morador de rua. “Desde o envolvimento com drogas, álcool, conflitos com as famílias, desemprego, problemas mentais e outros. Nas ruas, encontramos pessoas em situação igual à nossa, em que acabamos criando a ‘comunidade da rua’. É nela que a gente se apoia como um grupo social, mas de forma distante de uma sociedade que se diz desenvolvida socialmente, economicamente e culturalmente, apesar de nosso livre-arbítrio”, explica.
Durante a sessão foi exibido um documentário sobre o trabalho da Pastoral do Povo de Rua, produzido pelo setor de Comunicação da Arquidiocese de Teresina, apresentando a atuação da pastoral junto à população menos favorecida, um trabalho que surgiu da sensibilização com o sofrimento de inúmeros indivíduos, por não terem teto para morar e sobretudo por conta do uso abusivo de substâncias psicoativas.
“Alguns desses nossos irmãos em situação de rua se apresentam sem nenhuma perspectiva de vida, chegaram ao ápice de sua descrença em relação a si próprio, à sociedade, ao mundo, fazendo das ruas, praças e grandes centros não somente sua moradia, mas o refúgio da realidade que os aprisiona, expostas a riscos sociais gravíssimos, como violência, crimes, exploração sexual e contágio com doenças de toda natureza. Pedimos apoio para manutenção das atividades, autorização do poder publico ou projetos de lei para incluir em editais de licitações, obras e serviços as contratações direta ou temporária dessas pessoas. Não há o que pague a satisfação de ver um ser humano sair da condição extrema de vulnerabilidade social, retornar ao seio familiar e voltar a trabalhar e recuperar sua dignidade humana”, declara o padre João Paulo Carvalho durante pronunciamento na tribuna.
Para auxiliar o trabalho da pastoral é preciso também o acompanhamento dos profissionais capacitados, de assistência à saúde, orientação jurídica, de acolhimento para encaminhar às comunidades terapêuticas ou CAPs, incluindo também programas de capacitação e profissionalização para ajudar no emprego, renda e apoio para retornar ao mercado de trabalho.
O Dia Nacional em Defesa dos Direitos das pessoas em situação de Rua foi instituído em memória aos 15 indivíduos massacrados na praça da Sé, em São Paulo em 2004. A partir do ocorrido, a data do massacre ficou marcada como dia de luta em defesa dos direitos das pessoas nessa situação.
Por Flalrreta Alves