O período do carnaval se aproxima e com ele surge a dúvida: como um cristão pode vivenciar a festa carnavalesca sem adotar posturas contrárias a fé que professa?
Na história da humanidade, o carnaval não teve sua origem no Brasil, como muitos pensam, mas na Grécia. Era uma festa de alegria pagã. Era conhecido como o período do “festival da carne”, onde se aproveitava a data para consumir o alimento antes de um longo período de abstinência. Com o passar do tempo, a festa foi mudando de conotação e o que se observa hoje é que muitas posturas excessivas na data ferem a dignidade humana e levam o cristão a pecar. Mas não é de hoje que a Igreja se posiciona em relação ao tema.
De acordo com o padre Amadeu Matias, a Igreja não condena o carnaval. “Não podemos negar que essa festa popular promove a igualdade humana. Digo isso por ser um momento festivo celebrado por todos, de forma igual. Dança o pobre, dança o rico. O que não se pode é criticar as pessoas que aproveitam a festa como se fossem menos cristãs do que os que não aproveitam. Agora, o que devemos chamar a atenção é para a postura do folião. Ele não pode esquecer que é cristão em todos os momentos, incluindo em uma festa”, explica o padre .
Uso de bebidas alcoólicas e entorpecentes
Sobre o uso de drogas, o padre é categórico: “Ser cristão é fundamentalmente se encontrar com Cristo. Tudo que entorpece a alma tem um significado de fuga. Quem faz uso disso (bebidas e drogas) mostra preocupação de prazeres individuais, esquecendo-se do coletivo. E muitos acabam caindo no ‘vale tudo’, na violência, na falta de pudores. Isso fere a fraternidade”, explica o religioso.
Coreografias eróticas
Padre Amadeu afirma que certas danças e coreografias ferem a dignidade humana. “São danças apelativas que, por vezes, podem denegrir e ofender. Mais uma vez mostramos uma situação do indivíduo, e até de grandes grupos, contra o coletivo”, aconselha o padre.
Desvirtuação dos valores e da moral
Contudo, o que acontece nos eventos de Carnaval é quase sempre a desvirtuação dos valores e da moral, sem contar as ofensas a Deus.
Neste Carnaval, antes de decidir para onde vai ou o que vai fazer, devemos nos questionar: “O ambiente que pretendo ir promove, de alguma forma, a promiscuidade, o adultério e a dissolução da moral?”, “As demais pessoas que lá estarão, incluem Jesus Cristo em suas atividades?”, “Serei tentado a desrespeitar os mandamentos do Senhor?”.
“Graças a Deus, existe a opção de vários retiros espirituais em nossa Arquidiocese, nos quais encontramos, além de intimidade com Deus em orações, pregações, adorações, muita música de qualidade, bailes, diversão, amigos e, quem sabe, boa comida, cores e luzes”, sugere padre Amadeu.
A personificação da felicidade
O cristão não é um alienado no mundo, não vive recolhido em penitência como é a imagem que muitos têm. E o Carnaval é o tempo que a Igreja nos deu para celebrarmos o dom da alegria de forma virtuosa, encontrando toda a graça de sermos seres humanos por meio das coisas boas que trazem sabor à vida.
“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus. Tempo para chorar e tempo para rir; tempo para gemer e tempo para dançar” (Ecl 3,1-4).
O cristão deve brincar o carnaval?
“Claro que sim! O carnaval acontece no mundo e o lugar do cristão é no mundo! Cristo está no mundo e as pessoas que precisam conhecer Cristo também. Por isso o cristão deve participar, mas não da política do ‘vale tudo’. O que motiva a vivência coletiva é o respeito”, finaliza o sacerdote.
Por Vera Alice Brandão