“A boa política está ao serviço da paz”. Este é o tema da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2019, apresentada nesta terça-feira, 18.
“Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo”, lembra Francisco logo no início do texto. Ele destaca na mensagem que a política é um meio fundamental para construir a cidadania, mas alerta sobre o risco de tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até mesmo de destruição quando as pessoas que a exercem não o fazem como serviço à coletividade.
“Com efeito, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele e trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo. Se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, a política pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminente de caridade”.
Francisco cita na mensagem o cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002, recordando as “bem aventuranças do político”. Essas ações propostas pelo cardeal incluem, entre outros, a consciência acerca do seu papel, credibilidade e trabalho pelo bem comum.
“Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”.
Os vícios da política
No quarto ponto da mensagem, o Santo Padre reflete sobre alguns vícios da política, que tiram a credibilidade e enfraquecem o ideal de uma vida democrática autêntica.
Francisco elenca esses vícios: corrupção, negação do direito, falta de respeito pelas regras comunitárias, enriquecimento ilegal, justificação do poder pela força, tendência de perpetuar-se no poder, xenofobia e racismo, recusa a cuidar da Terra, exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato e desprezo por quem foi forçado ao exílio. “São a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social”, afirma o Papa.
Diálogo leal na vida política
O Santo Padre destaca também que cada um pode contribuir na construção da casa comum; ele enfatiza o diálogo leal entre os sujeitos em uma vida política autêntica. Porém, ressalta que a confiança não é fácil e dá como exemplo a realidade atual de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, bem como atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão a fraternidade tão necessária.
“Hoje, mais do que nunca, as nossas sociedades necessitam de ‘artesãos da paz’ que possam ser autênticos mensageiros e testemunhas de Deus Pai, que quer o bem e a felicidade da família humana”.
Não à guerra
Não falta na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2019 um apelo pelo fim das guerras. Cem anos após o fim da I Guerra Mundial, Francisco recorda a terrível lição das guerras fratricidas, destacando que a paz jamais pode se reduzir ao mero equilíbrio das forças e do medo.
“Manter o outro sob ameaça significa reduzi-lo ao estado de objeto e negar a sua dignidade. Por esta razão, reiteramos que a escalada em termos de intimidação, bem como a proliferação descontrolada das armas são contrárias à moral e à busca duma verdadeira concórdia”.
Esse cenário de terror sobre as pessoas mais vulneráveis acaba por contribuir para o exílio de populações inteiras, lembra o Papa, pessoas que vão em busca de uma terra de paz. “Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança. Ao contrário, deve-se reafirmar que a paz se baseia no respeito por toda a pessoa, independentemente da sua história, no respeito pelo direito e o bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida pelas gerações passadas”.
Projeto de paz
Francisco conclui a mensagem destacando que a paz é fruto de um grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos. Da mesma forma, é um desafio que requer ser abraçado dia após dia.
Ele elenca, por fim, três dimensões indissociáveis da paz interior e comunitária: a paz consigo mesmo, a paz com o outro e a paz com a criação.
“A política da paz, que conhece bem as fragilidades humanas e delas se ocupa, pode sempre inspirar-se ao espírito do Magnificat que Maria, Mãe de Cristo Salvador e Rainha da Paz, canta em nome de todos os homens: A «misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (…), lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55)”.
Fonte: Site da Canção Nova