O trabalho de conclusão do curso de Teologia do seminarista Francisco de Aquino Ferreira Filho foi norteado pela luz do Divino Espírito Santo e representa um marco referencial para a Igreja particular de Teresina. O seminarista encarou a banca examinadora do ICESPI – Instituto Católico de Estudos Superiores do Piauí abordando o trabalho de evangelização realizado pela Igreja Católica voltado para a comunidade surda.
Na busca pela graduação, o jovem descobriu, durante a pesquisa, que esse trabalho iniciou no ano de 2012 e teve como cenário a Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, situada no bairro Bela Vista (Forania Sul II). Foi no local que surgiu o primeiro curso de ‘Libras para católicos’. Em seguida um plano de ação pastoral foi ofertado à Arquidiocese de Teresina. A sugestão culminou com a fundação da Pastoral do Surdo em 2014. O compromisso era de inserir a comunidade surda dentro da comunidade de fé católica, como orienta a Sagrada Escritura: “Alargar o espaço da Tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, para que haja espaço para todos” (Is 54,2).
Intitulado “Catequese com surdos: sinais do Reino na Igreja do Piauí”, a defesa do TCC foi na sede do ICESPI. Entre os profissionais que validaram a pesquisa, estavam: Kelly Samara Lemos, a primeira pedagoga surda do Piauí; a Professora Maria de Lourdes Ribeiro, pioneira na catequização de surdos em Teresina e o padre João Paulo Moreira Santos, formado em Catequese, que acompanhou e orientou o seminarista na pesquisa.
“Esse é sem dúvida um trabalho que vai render bons frutos. A Igreja, o Corpo Místico de Cristo, por sua natureza é missionária e tem o dever de evangelizar sem excluir ninguém. Os surdos, portanto, não podem ficar fora das ações evangelizadoras e pastorais da Igreja. Deus convida a todos para participar do seu Reino e a Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. E não só as portas, não só os ouvidos, mas o coração. E é isso que esse belo trabalho oferta em termos de sinais para a caminhada da nossa Igreja”, diz o sacerdote que é coordenador regional de Catequese no Regional NE IV.
O trabalho atesta ainda a importância da Língua Brasileira de Sinais no seio da Igreja, pois possibilita a experiência da Iniciação à Vida Cristã. Também ratifica a certeza de que a catequese com surdos só se concretiza pela imersão na pedagogia de Jesus através do amor e do acolhimento na família e na comunidade cristã que, segundo a defesa, deve assumir a missão fundamental de alicerçar a fé de todos os irmãos, não valorizando obstáculos ou dificuldades.
“A escolha da temática surgiu a partir do meu contato com libras. Mas exatamente com aquilo que Jesus veio a anunciar que é a Boa Nova. E os surdos não podem estar excluídos dessa Boa Nova. A catequese com o surdo visa propor esse experimento junto ao Reino de Deus”, defende Aquino, justificando a escolha da temática.
O seminarista teve como companhia na plateia do auditório do ICESPI membros da Pastoral do Surdo e familiares. A explanação durou cerca de 20 minutos e foi apresentada por ele através da Língua Brasileira de Sinais, elencando as dificuldades ao longo da realização da pesquisa. Atestou que são muitos os estigmas associados à deficiência e atribuídos à incapacidade do surdo.
Na pesquisa há um capítulo dedicado à análise e compreensão da proposta de Jesus para anunciar o Reino de Deus a toda criatura. Segundo Aquino a observação ao Evangelho de Marcos visa resolver questões de exclusão que ainda persistem na comunidade eclesial, mas que não impossibilita as inúmeras descobertas que apontam para o que diz a Sagrada Escritura: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo – cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito”(Mt 11, 5-6).
“Apesar de ter sido o último a instalar a Pastoral do Surdo de todos os estados do Brasil, nós temos uma quantidade enorme de pessoas com essa deficiência, e nosso desejo é que todos façam a experiência. Eu posso dizer, como membro da Pastoral, que já é possível perceber resultados positivos. Os surdos que integram a Pastoral do Surdo já levam a Palavra para o outro surdo. Já tivemos o primeiro Encontro Regional e pudemos perceber o grande interesse da comunidade. Já existe a pastoral nas dioceses de Picos, Campo Maior e Parnaíba e desejamos que chegue as outras. Nosso desejo é ver surdo evangelizando surdo”, diz otimista Aquino.
Após aprovação com louvor, o sentimento de gratidão tomou de conta do novo teólogo que recebeu abraços e foi reverenciado pela docente Maria de Lourdes Ribeiro. Ela começou a ministrar disciplina de Libras no ICESPI em 2011 e contribuiu para a concretização desse trabalho.
“Meu sentimento é de gratidão. Desde que cheguei aqui e diante de jovens aprendizes acadêmicos, dispostos a aprender libras, não faltou incentivo. Sempre busquei esses resultados. Um seminarista com conhecimento em libras é motivo de muita felicidade. Para a comunidade surda se abrem portas, nossa religião ganha uma nova visão e o surdo é incluído através da catequese. Estamos com as portas abertas para a evangelização”, disse finalizando.
Por Vera Alice Brandão