Obedecer, eis um dos conselhos evangélicos mais difíceis de ser observado, talvez porque mal entendido. Consciente disso, busco agora escrever este pequeno texto, com a intenção de elaborar uma catequese a este respeito.
Um primeiro passo: ir à origem do termo. O verbo obedecer vem do Latim oboedire, o que significa “prestar atenção, escutar com seriedade”. Portanto, obedecer não se faz sem escutar, sem desenvolver interiormente uma atitude de atenção.
A atitude da escuta é tantas vezes requisitada pela Palavra de Deus. Nenhum daqueles que receberam um chamado, uma missão específica, segundo a Sagrada Escritura, disseram um sim sem escutar. Estes só obedeceram à voz do Senhor que os chamava porque escutaram. No livro do Deuteronômio nota-se a ênfase que dá o autor sagrado à escuta para se observar bem os mandamentos da Lei de Deus. Antes de se discorrer sobre os mandamentos, registra-se um enfático “ouve, ó Israel” (Dt 6,4).
Dentre os tantos exemplos contidos da Sagrada Escritura, destaco dois: Samuel e Maria. Samuel, sem conhecer ainda bem o Deus de Israel, sendo chamado pelo Senhor, cria ser Eli a chamá-lo naquela noite. Mas era o Senhor que o chamava. A missão que a ele foi confiada só pôde ser entendida e posta em prática quando, por orientação de Eli, Samuel expressou ao Senhor estas palavras: “fala, porque o teu servo ouve” (1Sm 3,10). Do mesmo modo, diante do apelo do Anjo que fosse mãe do Salvador, Maria, atenta à Palavra de Deus, dá o seu sim: “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Maria, segundo o Evangelista São Lucas, é o modelo dos discípulos que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (cf. Lc 8,21). Esses exemplos bíblicos convergem para uma consideração: ouvir é condição necessária para o seguimento.
Uma segunda consideração: ouvir/obedecer implica alteridade. Partindo deste princípio, considero que a escuta enquanto ato necessário à obediência requer o convencimento de que ela não se faz sem um outro. E quem é este outro? É Deus, o Absoluto, e são também aqueles que têm a autoridade de governo dada por Deus. Olhando para clérigos e consagrados, estas pessoas são seus os Bispos e os seus Legítimos Superiores.
O Código de Direito Canônico, referindo-se aos religiosos de modo geral, prescreve: “o conselho evangélico da obediência, assumido com espírito de fé e amor no seguimento de cristo obediente até a morte, obriga à submissão da vontade aos legítimos Superiores, que fazem as vezes de Deus, quando ordenam de acordo com as próprias constituições” (Cân. 601, CIC).
Por fim, é importante entender a obediência como atitude de entrega e como um configurar-se ao Cristo-Servo. Uma pastoral de conjunto, a partir desta associação a Cristo-Cabeça, nos fará entender que estamos todos unidos. Em Cristo nenhum membro é isolado. Todos são servos, e a seu modo mostram, como ele, sua adesão concreta à vontade do Pai. Meditando bem a entrega total de Cristo, a sua obediência sem reservas ao Pai, consideraremos bem mais nosso ato de obedecer. Com vistas à nossa meditação, encerro estas palavras com o que nos escreveu São Paulo em Fl 2,6-8: “Ele, que é de condição divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus. Mas despojou-se, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens, e por seu aspecto, reconhecido como homem; ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte numa cruz”.
Com afeto,
Pe. Rubens Chaves