A cidade de Paulistana no sul do estado, pertencente à diocese de Picos, sediou a décima quarta edição da Romaria da Terra e da Água do Piauí. Sob o olhar e as bênçãos de Nossa Senhora dos humildes, padroeira da cidade, agentes de pastorais, grupos e movimentos da Igreja das oito dioceses do Regional Nordeste IV tiveram a oportunidade de se unir em oração e engajamento na luta por direitos e melhores condições de vida, sobretudo no semiárido piauiense.
Após a acolhida dos romeiros que se deu logo na entrada da cidade, a tarde do dia 14 de julho foi dedicada às apresentações e discussões de cinco diferentes temas em seminários temáticos propostos pela coordenação do evento.
O primeiro deles foi organizado pela Cáritas Regional e abordou a temática: “A seca e os efeitos das mudanças climáticas”, na quadra do IFPI. O assessor técnico da Cáritas, João Evangelista, falou sobre a relevância de trabalhar essa temática na romaria. “A Igreja sempre chamou a atenção para temas importantes e presentes no semiárido brasileiro e piauiense. Esses efeitos estão causando a baixa produção de alimentos, doenças e ameaçam a vida das pessoas”, apontou.
“Grandes projetos – vidas ameaçadas” foi o tema do seminário que aconteceu na Quadra da Lagoa e ficou sob a responsabilidade de Hildebrando Pires, coordenador da Cáritas de São Raimundo Nonato. Ele explicou que desde a última romaria que aconteceu em Oeiras no ano de 2015, a Igreja no Piauí colocou essa pauta que resulta de um levantamento feito em várias cidades e territórios do estado, que fez com que se constatasse que a chegada de grandes empreendimentos de uma maneira abrupta e sem diálogo com as comunidades locais vem provocando prejuízos na vida das pessoas. “O progresso é muito bem vindo, desde que não prejudique a vida das pessoas e das comunidades”, afirmou.
O terceiro seminário levou para a quadra do São Francisco a temática: “Construindo em cidade sustentável”. Assessorados pelo engenheiro agrônomo Gilcélio Teixeira, que faz parte do centro de estudos ligados às tecnologias alternativas de Paulistana, os romeiros foram instruídos a cobrarem do poder público a elaboração de um plano de sustentabilidade a partir do uso de tecnologias renováveis para seus municípios.“É preciso mobilização de todos para construir um plano de sustentabilidade e trabalho utilizando tecnologias para melhorar a vida das comunidades“, reforçou.
A coordenadora regional da Pastoral da Juventude do Ceará, Joice Elaine, foi a responsável por abordar a quarta temática “Juventude: globalização e cidadania” na Escola Lucinete Santana. Na ocasião, ela ouviu depoimentos de jovens de todas as dioceses presentes e destacou que uma das maiores preocupações da juventude hoje é a flexibilização dos direitos trazida pela reforma trabalhista.
Ela ressaltou a necessidade da Igreja apontar caminhos e fortalecer a luta por esses direitos. ”Nós somos parte dessa Igreja romeira em saída e dessa natureza degradada pois somos corpo físico e biológico, assim como também somos parte daqueles que sofrem com a retirada de direitos no Brasil. A gente vive o cotidiano de construir uma Igreja comprometida com a defesa desses direitos”.
A quinta temática levantada como proposta de discussão na Romaria foi “Terra, água e bem viver”. Gregório Borges é membro da coordenação da CPT Regional Piauí e destacou a relevância de discutir esse tema. “A terra é a nossa morada, o lugar que precisamos para morar e viver bem, por isso não pode ser concentrada, precisa ser distribuída, pois é dom de Deus. Buscamos trabalhar junto com as famílias. Outro ponto que discutimos é a questão da água que está acabando . Estamos presenciando o assoreamento do rios e a morte dos animais. Sem terra e sem água não existe o bem viver”, apontou.
Após a conclusão dos seminários, na noite do mesmo dia, as propostas levantadas com as discussões foram levadas para a plenária aberta e apresentadas a todos os grupos reunidos na praça da igreja matriz. O momento seguiu com apresentações artísticas e a presença do cantor cearence Zé Vicente, famoso por compor letras de músicas que abordam as lutas e alegrias do povo nordestino.
No domingo, 15, após a caminhada que iniciou no Morro dos Humildes às cinco da manhã, os romeiros seguiram pelas principais ruas da cidade até a praça da Igreja Matriz, onde foi celebrada a santa missa com a presença do clero diocesano e dos bispos de todas as dioceses do Piauí.
Para o presidente do Regional Nordeste IV, Dom Jacinto Brito, momentos como a Romaria são considerados importantes porque a Igreja levanta sua voz profética na denúncia. “Nós temos o anúncio mas também a denúncia. É preciso gritar contra aquilo que é contrário ao projeto de Deus. Entendo que a romaria é uma profecia para chamar a nossa atenção para a necessidade de colocarmos nossa fé em atos concretos, a fim de que essas situações sejam transformadas”, pontuou o Arcebispo de Teresina.
Dom Plínio Luz é bispo da diocese de Picos, responsável por essa edição da Romaria. Ele demonstrou alegria com os resultados alcançados. “A romaria está integrada na vida e na caminhada do povo. Estamos felizes porque conseguimos realizar o que foi planejado e mobilizar pessoas de todo o estado, tocando o coração das pessoas sobre aquilo que podemos transformar”, afirmou satisfeito.
Ele ainda enalteceu o engajamento e a doação dos mais de 600 leigos e leigas que estiveram diretamente envolvidos com o acolhimento e infraestrutura na cidade de Paulistana e ressaltou que a Romaria não acabou. “A partir das temáticas abordadas nos 5 seminários será elaborado um documento que tem a característica de denúncia, mas também de proposição, no sentido de cobrar direitos que são de todos. A gente espera que essa caminhada não pare e por isso vamos continuar em romaria. Estamos numa sociedade que se manifesta contrária ao plano de Deus e por isso somos convidados a testemunhar Jesus Cristo onde quer que estejamos”, concluiu.
Após a celebração eucarística, Dom Plínio Luz fez a entrega de troféus aos bispos, que representavam o mapa do Piauí, como lembrança desta Romaria. Em seguida, apresentou aos romeiros a cruz de madeira construída como símbolo do evento, que irá peregrinar por todas a futuras edições. Ao final, foi divulgado que a diocese de Parnaíba irá sediar a próxima edição da Romaria da Terra e da Água em 2020.
O bispo de Parnaíba, Dom Juarez Souza falou da expectativa com a qual acolhe a responsabilidade de acolher os romeiros na próxima Romaria. “Assumimos de coração e recebemos com muita alegria. A juventude foi chamada de protagonista da cultura do cuidado, por isso confiamos à nossa juventude a responsabilidade por conduzir e preparar esse momento, e esperamos em Deus trabalhar como diocese anfitriã somando forças no nosso regional. Que Nossa Senhora nos conduza nessa caminhada!”, concluiu.