Uma multidão de pessoas participou ontem (10) da 23º Caminhada da Fraternidade. Esse ano a inciativa da Ação Social Arquidiocesana (ASA) abordou a temática ‘Diferenças nós respeitamos’. A Caminhada tem o apoio da Arquidiocese de Teresina e visa a manutenção de lares, abrigos, casas e instituições que prestam assistência e auxílio a pessoas carentes em diferentes áreas.
Ainda antes das sete da manhã o público de diferentes crenças e raças começou a chegar e se concentrar em frente ao palco que foi montado ao lado da Igreja São Benedito. Após o momento de acolhida, milhares de pessoas vestidas com o kit da Caminhada receberam as boas vindas do arcebispo de Teresina Dom Jacinto Brito que presidiu a Santa Missa.
Citando o evangelho de São João, o arcebispo gerou reflexão junto aos peregrinos. “O amor é eterno. Sentimo-nos como destinatários dessa bem aventurança, pois estamos aqui para realizar esta Palavra de Jesus: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei (Jo 15,12-17). A fraternidade, que não é a amizade dos sentimentos, nem simpatias, é uma decisão do nosso coração”, disse.
O arcebispo de Teresina ainda ressaltou que, apesar de tanta violência e da globalização de diferenças, o evangelho tem preservado muitas pessoas dessa corrupção. “Sobressai a alegria de partilhar e essa é a vitória do bem. Não é a toa que a caminhada acontece num domingo para celebrar a vitória da ressurreição”, acrescentou.
Dona Maria do Carmo da Paróquia Santíssima Trindade, veio com dois netos e uma filha. Ela revela que a cada ano seu amor pela Igreja aumenta. “Eu me sinto honrada em integrar a Igreja Particular de Teresina. Como é bonito ver esse mar de gente que tem o mesmo sentimento: o de amor ao próximo. Amor esse defendido pelo nosso Arcebispo em sua fala e que é capaz de unir pessoas diferentes, mas que carregam consigo a marca da solidariedade. Aquele jovem rapaz que está ali. Jovem, na flor da idade com escolhas bem diferentes das minhas (disse se referindo a um homem que se concentrava ao seu lado durante a missa). Mas em comum temos o amor ao próximo. Estamos aqui com o mesmo fim, o de colaborar e contribuir para o bem do irmão carente”, disse emocionada.
A mensagem do bem encontrou morada também no coração de Paulo Davidson, pela primeira vez no evento. O jovem revela que sentiu o chamado do acolhimento. Estudante de moda e morador da zona sul da capital, ele diz que muitas vezes sentiu-se excluído por ser homossexual. Mas optou por acordar cedo, vestir seu kit e levantar a bandeira do evento que, segundo ele, é um desejo de Deus.
“Eu agradeço a Igreja Católica de Teresina pelo convite. Muitas vezes não vou aos lugares e ações da nossa cidade por me sentir excluído. Hoje não! Hoje acordei e disse para mim mesmo que é dia de pensar no próximo. Hoje é dia de agradecer a Deus por tudo que tenho e ser grato a Ele pela minha saúde. Se eu tenho o que preciso e necessito, tem ao meu lado um irmão que não tem a mesma oportunidade e então cabe a mim como cristão colaborar. Sempre há algo a se fazer pelo irmão carente. Meus vinte e cinco reais (disse se referindo ao valor que investiu na compra do kit) é pouco, mas vai fazer diferença, e o melhor, vai deixar meu coração em festa por saber que fiz algo de bom”, disse satisfeito.
Ainda durante a homilia, Dom Jacinto defendeu a importância da união, de se pensar no coletivo e de agir de forma fraterna e partilhar o pouco que se tem. “O individualismo é um círculo estreito ao nosso redor. Cremos na fraternidade que é capaz de derrubar muros. Por isso estamos aqui. O fato de estarmos aqui no início dessa manhã de domingo pela 23ª vez ostentando o nosso lema: diferenças, nós respeitamos, significa de fato a nossa crença e convicção de que fraternidade se faz com a vida e gestos de partilhas”, afirmou.
Ao final da celebração Dom Jacinto deu um recado de ânimo e injetou nos presentes a mensagem de otimismo.
“Não desanimem se presenciar sinais contrários, saques aos direitos das pessoas, a globalização da indiferença. Nós rompemos esse cerco proclamando a vitória da fraternidade. Hoje é domingo, dia da ressurreição, onde Jesus venceu o pecado e a morte e nós queremos vencer afirmando: diferenças, nós respeitamos”, enalteceu o arcebispo.
Após a Santa Missa o público foi conduzido por uma equipe de educadores físicos a praticar exercícios de aquecimento. E nesse momento já era grande a expetativa para o trajeto que teria como destino final a Ponte Estaiada. Dispostos a prosseguir firmes na fé, os peregrinos formados por famílias inteiras, jovens, idosos e crianças aqueceram o corpo e a mente.
Padre Tony Batista, Vigário geral da Arquidiocese de Teresina, subiu no caminhão e como um ‘capitão do time do bem’, assim denominado pelo Arcebispo, fez a convocação dando início a Caminhada. Ao término da passagem pela Avenida Frei Serafim foram orientados a seguir trajeto pela Avenida Raul Lopes acessando a via pela aba da ponte Juscelino Kubistchek.
O casal Carlos e Rosângela Marques seguiram o trajeto em um caminhão. Integrantes de uma equipe responsável pela comercialização de água mineral, a dupla não desanimou mesmo debaixo do forte sol. Como membros do Encontro de Casais com Cristo (ECC) eles entendem que é missão participar do momento.
“A nossa Igreja chama. Mas, quem chama mesmo é Jesus Cristo Nosso Senhor. E esse chamado tem sempre o nosso sim. Estamos aqui pelo bem de irmãos que precisam de assistência e que devido as suas carências, seja de assistência à saúde ou até mesmo um abrigo, pois são infinitas as dificuldades de abandono e falta de dignidade não cabe recusa. Então não podemos nos negar a contribuir para a obra social da nossa Igreja”, diz alegre.
Em 2017 onze projetos e instituições (incluindo lares, abrigos e casas de passagens, além de iniciativas de pastorais) foram beneficiados com os recursos. A casa por excelência apoiada pela Caminhada é o Lar da Fraternidade. O centro de passagem abriga pessoas com HIV-Aids que vem à Teresina para tratamento médico.
Já encerrando o trajeto o Vigário Geral que é também um dos idealizadores da Caminhada já evidenciava o sentimento de alegria e de agradecimento pela participação e adesão popular.
“Alguns da sociedade é que são diferentes, que são intolerantes. Olha a resposta do povo. Quando o povo é solicitado, responde. Nós acreditamos que o Brasil tem jeito. O país está precisando de lideranças, de homens e mulheres capazes de levar esperança para o nosso povo”, disse em tom de desabafo.
Ao final do percurso , que encerrou em um palco montado próximo à ponte Estaiada, o sacerdote enalteceu a comunhão e a pluralidade dos presentes. “O que tem de igrejas evangélicas, terreiros de umbanda, pai de santo e mães de santo participando da caminhada é maravilhoso. Eles estão aqui porque não são inferiores, são nossos irmãos. Você não é meu inimigo porque eu sou branco e você preto. Você não é meu inimigo pela sua orientação sexual, porque tem partido diferente. Somos filhos do mesmo pai, acontece que a nossa sociedade é burguesa, inconsequentemente. Essa burguesia exclui, pisa e temos que acabar com isso”.
A Banda + Fides com o padre Jardel Moreira e o cantor Henrique Douglas animaram o final da dispersão ao som de músicas católicas, trilhas juninas e diferentes ritmos como pop e rock. O momento encerrou já perto do meio dia.
Por Vera Alice Brandão