A Semana Santa encontra o ápice no Tríduo Pascal, que compreende a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira da paixão e morte do Senhor e a solene Vigília Pascal, no sábado à noite. Esses três dias formam a grande celebração da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A liturgia da Quinta-feira Santa, na cerimônia do Lava-pés, fala do amor de Deus por toda a humanidade, com a proclamação do novo mandamento, a instituição do sacerdócio ministerial e a instituição da Eucaristia, em que Jesus se faz alimento, com seu corpo e sangue.
Em cada Diocese, nesta data, o bispo celebra com os sacerdotes e convida a comunidade para participar da missa da Ceia do Senhor , que remete às lembranças da despedida de Jesus conservadas pela tradição. Tudo centralizado na Eucaristia por Ele instituída nesse dia. “Nessa mais preciosa herança , a Igreja tem a fonte da sua presença viva e perpétua na consagração do pão e do vinho e a vivência perene do mandamento novo do Mestre: amai-vos uns aos outros como eu vos amei, este é o meu novo mandamento” , explica o padre Luis Eduardo Bastos, vigário paroquial da comunidade Nossa Senhora da Glória (área pastoral do Ininga).
Trata-se de um momento importante para o nosso crescimento espiritual e convívio fraterno entre irmãos. “A missa do lava-pés reproduz a lição de fraternidade deixada por Jesus”, afirma o sacerdote, que sugere ainda a leitura do livro de Jó (13, 1-5) como complemento para melhor vivenciar e compreender este momento.
O Evangelho oferece ainda um anúncio de fé sobre o sentido da pessoa e da obra de Jesus na terra. Nele e por Ele Deus fez uma nova criação e uma nova aliança com os homens. Por isso a Última Ceia não repetia a ceia pascal judaica, mas a ultrapassava. “Aquele jantar em que Ele se despedia marcava também o início da Sua hora, pré-anunciada repetidas vezes. A hora decisiva da Sua vida, o coroamento de Sua missão, que revela a plena consciência humana de Jesus sobre Sua vocação. Ele sabia que o Pai tinha colocado tudo em Suas mãos, e que de Deus tinha saído e para Deus voltaria”, pontua.
Jesus aceitou humildemente o que Deus queria Dele, assumiu com plena consciência as decisões finais de Sua vida pessoal em todos os riscos e consequências. No texto sagrado, a “hora de Jesus” é Sua volta para o Pai. É a saída do mundo, alusão ao êxodo ou a saída do povo hebreu libertado do Egito, lá no longínquo passado. Lembra-se a páscoa que libertara o povo da escravidão pela imolação do cordeiro pascal. Mas, Jesus é o novo e verdadeiro cordeiro. Deixou-se sacrificar movido por um amor solidário em extremo para nos libertar da escravidão gerada pelo pecado. Individual ou social, o pecado é a fonte da corrupção que sustenta a cultura da morte, deixando rastros de injustiças e violência em toda convivência humana”, reflete o padre .
Essa entrega de amor do Senhor é revivida em todas as culturas do mundo nos gestos simbólicos da cerimônia do lava pés. Jesus tirou o manto, saiu da mesa e ajoelhou-se aos pés dos discípulos. O gesto de “tirar o manto” significa, no texto bíblico, que ele despojou-se de si para servir a todos. Passou de Mestre a servidor humilde. O sacerdote explica que o gesto de lavar os pés era um serviço doméstico prestado ao dono da casa ao voltar da rua empoeirada. Só um escravo não judeu o prestava, pois era considerado muito humilhante e desprezível. A reação de Pedro sinaliza isso: “Tu nunca me lavarás os pés”. Ele só aceitou ver Jesus humilhado a seus pés ao ser colocado contra a parede: “Se não me deixas lavar os teus pés, não és dos meus amigos”. Após a ressurreição do Senhor, ele e os outros discípulos entenderam aquela lição de amor fraterna e solidária.
A postura de Jesus, ajoelhado, perante os discípulos , nos ensina que na comunidade cristã não há dominadores e dominados. Apenas irmãos e servidores uns dos outros. O “lava-pés” não pode ser mera cerimônia. “É teste e desafio aos cristãos de todos os tempos. A quem recusamos acolher? A quem não gostamos de servir? Talvez os excluídos por todo tipo de marginalização: desempregados, mendigos, idosos, nossos vizinhos mais humildes. Nesta quinta-feira santa coloquemos nossos pés nos caminhos de Jesus, renovando a convicção de que segui-lo é servir por amor”, finaliza o sacerdote.
OUTRAS INFORMAÇÕES:
Aqui em nossa Arquidiocese a missa da Ceia do Senhor ocorre nesta quinta-feira, às 18h, na Catedral de nossa Senhora das Dores. A celebração será presidida pelo Arcebispo Dom Jacinto Brito.
Por Vera Alice Brandão