A melhor idade é um eufemismo frequentemente usado no Brasil para referir-se aos cidadãos pertencentes à chamada terceira idade ou, mais apropriadamente, aos idosos. O termo “idoso” recebe entre nós uma definição na forma da lei: “pessoa com idade igual ou superior a 60 anos”. Atualmente, segundo o IBGE, o número de pessoas idosas não para de crescer no país e já ultrapassa 10% da população total. O Estatuto do Idoso, legislação editada em 2003, estabelece que os censos demográficos brasileiros deverão incluir dados relativos a esse segmento da população.
A Terceira Idade é, portanto, uma fase da vida pela qual a maioria dos indivíduos de uma sociedade bem equilibrada e igualitária tende a passar. Embora seja ainda a época da vida em que esses indivíduos sejam apresentados a doenças e males que nunca antes tinham aparecido enquanto eram jovens, a terceira idade vem com a promessa de uma nova visão de mundo, uma postura renovada, que passa a condizer com a condição de idoso.
Às vezes chamá-los de idosos pode até entristecê-los, ou desanimá-los, e é aí que se apresenta uma saída para essa nomenclatura: a melhor idade. Ela existe? A melhor idade é de fato o melhor período da vida do homem em geral? Ou apresenta-se como um termo mais agradável para tratar daqueles que muito viveram e ainda estão entre nós para contar a vivência de seus muitos anos de vida?
As indagações encontram resposta viva no Lar de Sant’Ana, que comemorou no dia 26 de agosto seu primeiro ano de atuação em Teresina. A casa é uma instituição de longa permanência, onde 18 idosos são acolhidos em meio a muito afeto, cuidado e amor. E falando em idosos, neste sábado, 1º de outubro, o país celebra o Dia Nacional do Idoso. No Lar a data foi comemorada nesta sexta-feira (30) com muita alegria, dança e música, além de show de humor, muita risada e um alívio gostoso ao fardo exaustivo que a idade avançada e os diversos problemas de saúde proporcionam aos usuários da unidade.
Com afeto, cuidado e amor eles mostraram que, mesmo com tantas limitações, é possível viver bem e cada dia melhor, sorrindo, feliz, dançando, cantando, usufruindo do melhor da vida: viver. “Me sinto viva aqui dentro”, disse, emocionada, dona Maria do Carmo, a segunda moradora a chegar ao Lar de Sant’Ana. Graças a uma intervenção do CREAS Leste, ela deixou para trás uma fase ruim de sua vida. Segundo Soares Neto, psicólogo do Lar, ela sofria maus tratos. “Além disso, já teve um AVC e sobre com a diabetes. Assim que a banda começou a tocar ela se emocionou, porque constata que não pode mais andar e dançar, como fazia tantas vezes. Ela se sente presa, por isso ainda chora bastante”, disse.
Na cadeira de rodas, atenta à movimentação do baile estilo “Anos 60”, dona Maria do Carmo foi tirando as lágrimas e dando lugar para o sorriso. Um largo e bonito sorriso, típico de quem se deixa levar pela música e pelo humor. Assim como ela, o Itamar Oliveira, 64 anos de idade. Morador do Lar há três meses, ele conta encontrou na casa uma nova vida e passou a viver a terceira idade com mais qualidade. “Me tiraram das ruas, me deram dignidade, felicidade. Não há outro lugar melhor”, disse Itamar, que era mecânico.
O aposentado Francisco das Chagas, acolhido pela instituição desde setembro do ano passado, também curtiu bastante a festa que comemorou o Dia Nacional do Idoso. “O Lar é minha casa. É onde me sinto bem demais, com muito carinho, com um ótimo atendimento e com amigos especiais para mim”, disse ‘Seu Chagas’, como é chamado na casa. Aposentado, aos 72 anos de idade. ‘Seu Chagas’ teve a perna direita amputada após um acidente na linha férrea, em virtude do excessivo consumo de álcool. “O acidente aconteceu em 1979, depois que eu bebi ‘algumas’”, disse ele, em meio à brincadeira e descontração, enquanto relembrava um pouco de sua história.
História parecida vive a aposentada Odete Silvestre, que em 31 de dezembro deste ano, último dia de 2016, completará seus 90 anos de idade. Moradora do Lar de Sant’Ana desde setembro do ano passado, Dona Odete foi a quinta pessoa a chegar ao Lar. Mesmo em meio ao esquecimento característico da idade, sorriu quando lembrou da infância, falando das peraltices que fazia quando era pequena. Carinhosa, Dona Odete fala com gratidão pela acolhida que recebeu no Lar.
“Eu gosto deles como se fossem do meu sangue. Graças a Deus, me sinto bem cuidada, me sinto em casa”, disse a aposentada, arrancando sorrisos de toda a equipe. “Morar aqui é uma bênção. Ter a bênção da avó de Jesus [Santa Ana] é muito bom”, continuou.
Inaugurado em 24 de agosto de 2015, o Lar é administrado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA) em parceria com a Prefeitura de Teresina, por meio da Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social (SEMTCAS). Com capacidade para 17 idosos, a casa é a realização do projeto de Deus, como descreve a Irmã Cândida de Jesus, coordenadora da instituição. “Essa é, com certeza, mais uma obra do nosso Deus, sendo uma necessidade de nossa capital, em vista à grande quantidade de idosos que estão com seus vínculos familiares rompidos. Ela surgiu com essa proposta de ir ao encontro do nosso próximo que está abandonado”, relata.
Para o atendimento dos idosos, o Lar de Sant’Ana conta com a colaboração de mais de 30 profissionais, nas mais diversas áreas, como fisioterapia, nutrição, técnico em enfermagem, assistente social, terapeuta ocupacional, médico, vigilantes, copeiras, serviços gerais e cuidadores.
Localizado na Avenida Poty, 1117, Jóquei, o local acolhe, atualmente, 18 idosos. O acesso da pessoa idosa é feito com mediação do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que faz o estudo do perfil dessa pessoa e confere as questões familiares que põem o idoso em uma situação de risco, como ocorreu com ‘Seu Chagas’ e com ‘Dona Odete’.
“Nós fomos muito bem sucedidos nesse primeiro ano. Dificuldades, inerentes a todo começo, existiram. Mas, com o tempo, a gente conseguiu muita coisa. Vê-los bem, atenciosos, agradecidos pelo atendimento, nos realiza enquanto pessoa humana e profissional. A gente nota a diferença em todos eles, analisando quando chegaram à casa e comparando com os dias de hoje. Eles se comunicam mais, são mais felizes, melhoraram seus vínculos”, disse Irmã Cândida de Jesus, coordenadora do Lar.
“Alguns vieram de famílias bastante desestruturadas. Perderam vínculos importantes, sofreram com situações ruins diversas. Por isso, a gente procura manter o melhor ambiente possível, com atenção, cuidado, afeto. Essa fragilidade pela qual eles passaram por muitos anos os deixaram vulneráveis e necessitando dessa institucionalização, mas, que vem sendo feita como um verdadeiro, uma verdadeira família”, pontuou Soares Neto, psicólogo da casa.
O Lar também recebe doações, especialmente, de fraldas e materiais de higiene pessoal. Para conhecer melhor as instalações e os serviços ofertados pelo Lar ou para agendar visitas e doação de materiais, basta entrar em contato pelo telefone (86) 3233-5398.
Texto: Flávio Moura
Foto: Renato Bezerra