A história da Igreja no Brasil atesta que o enraizamento e o cultivo da fé católica em nosso país girou muito em torno dos “santos”. A piedade popular encontrou nos amigos e amigas de Deus a inspiração para suas orações, a motivação para festas religiosas e até mesmo para identificação da vida paroquial ou de uma região. Os sertões estão permeados das novenas, ladainhas e promessas aos santos. Parece que o povo, pouco evangelizado, sentiu a proximidade desses servos e servas de Deus como uma forma de estar unidos à divindade. É uma herança do catolicismo ibérico, trazida para cá pelos missionários portugueses, mas quem sabe, também um reflexo indireto da influência cultural e religiosa dos africanos com seus “orixás” e “entidades”. O certo é que a devoção aos santos, ainda hoje, com suas imagens e novenas, suas festas e oratórios é a coluna da fé católica para a grande massa de batizados em nosso país.
À primeira vista, um problema! Desvio de foco do essencial? Prejuízo a centralidade de Jesus salvador? Ocasião de contestação para os irmãos evangélicos que vêem nos santos (imagens!) ídolos a concorrer com Jesus? O fato está ai e, seja o Concílio Vaticano II, sejam as Conferências do Episcopado Latino Americano, com destaque para Medellín e Aparecida, a piedade popular é vista como uma forma legítima e rica de expressar a fé, bem como um excelente caminho de evangelização mais profunda e abrangente.
O Prefácio da Missa dos Santos nos faz louvar a Deus:
* pela comunhão que nos une
* o testemunho que nos estimula
* a intercessão que nos ajuda.
A arte pastoral consiste em apresentar os Santos como amigos de Deus! Apresentá-los como obras de suas mãos, participantes de sua Santidade. Maria, a mais santa de todos os santos proclama: “O Senhor fez em mim maravilhas!”
Devemos evitar mostrar um santo desconectado do conjunto da Comunhão dos Santos!
A própria forma de orar educa a fé, pois a Igreja nos ensina a rezar com São José e São Francisco. Não pedimos a Deus e a São Francisco! Pedimos SEMPRE a Deus com São Francisco, unidos à intercessão de
Francisco. Há uma só FONTE da graça! Os santos bebem dessa fonte e a ela nos conduzem com seu exemplo e preces.
Muito nos ajudaria conhecer a vida dos Santos com seus altos e baixos, para que nos servisse de estímulo e conforto. A mais recente santa canonizada, Madre Teresa de Calcutá, viveu anos em aridez, em dúvidas de fé!!!
Como é maravilhoso constatar que cada santo constitui uma espécie de raio detemunho, como por exemplo: o exercício da misericórdia para com os pobres, luz que brota da Palavra de Deus! Assim já não receberia tanto realce a intercessão específica de um santo (exemplo: Santa Luzia para os olhos; Santo Expedito para causas urgentes, etc) e sim o forte do seu tes, a vida exemplar de oração ou a dedicação heróica em sua profissão.
Muito há que ser feito, mas a fonte é abundante visto que a Igreja ao reconhecer os méritos dos seus filhos exalta o próprio doador destes dons, o Senhor! Afinal, Deus é glorioso em seus Santos!!!
Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho
Arcebispo Metropolitano de Teresina