A Ressurreição de Jesus não é só o evento surpreendente que justifica o anúncio de Cristo, mas o próprio centro da fé, testemunhado desde a comunidade cristã primitiva. A liturgia tem no evento pascal o seu cume como a esperança cristã resume-se neste mistério: “morrendo destruiu a nossa morte e ressurgindo restaurou a vida” (Missale Romanum, prefácio da Páscoa). Unânimes, afirmamos com Paulo: “se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé” (1Cor 15,14).
É para este destino de fé, e não apenas para o seu valor histórico, que nos conduz a quaresma e, pela sua própria dinâmica, todo o ano litúrgico. Não é indiferente que a data da Páscoa seja a peça fundamental e por si mesma completa na grande diversidade das comemorações da Igreja. Tudo no projeto da salvação, desde o mistério da Encarnação até o culto à Virgem Maria e aos santos, abstrai sentido deste desígnio de amor que, não obstante a humilhação e a cruz, culminou na glória do sepulcro vazio. Como o ano litúrgico, é a nossa vida, desde o batismo enxertada no mistério pascal de Cristo: mortos e sepultados com ele, com eles ressuscitados (cf. 1Tm 2,5).
A solene exultação pascal, que se estende por 50 dias, é toda vivida “como um grande Domingo” (Santo Atanásio). Quem aproxima-se do Ressuscitado descobre que Ele vive para sempre, e que o Dies Domini Emoticon smile Dia do Senhor) é a memória no tempo de que “Ele está no meio de nós”. Os evangelhos do Tempo Pascal, por isso, são uma catequese sobre “as presenças” de Jesus, cuja ação perpetua-se nos ministros, na assembleia orante, nas Sagradas Escrituras e, por excelência, na Santa Eucaristia (cf. SC 7). Espiritualmente, o símbolo do fogo novo na Vigília do Sábado Santo, o mesmo em que é aceso o Círio Pascal, convida-nos a soprar sobre as cinzas e reinflamar a brasa de vida nova que o batismo um dia acendeu em nós.
Neste Jubileu da Misericórdia, somos (re)convidados a meditar o centro do mistério. Cristo, glorificado na cruz, deu provas de que o termo do amor é o perdão. Ressurgindo da morte, fez conhecer a onipotência da misericórdia. Ressuscita, portanto, cada homem quando deixa vencer a compaixão.
Igor Torres
Seminarista da Arquidiocese de Teresina em Filosofia