A nossa Arquidiocese de Teresina reúne uma singularidade interessante: sua padroeira é Nossa Senhora das Dores e o Santuário Arquidiocesano é Santa Cruz dos Milagres.
As festas litúrgicas também estão unidas: Exaltação da Santa Cruz dia 14 de setembro e, logo no dia 15, Festa de Nossa Senhora das Dores.
Filho e Mãe unidos no mesmo amor, amor provado na angustia e na dor.
Agora que a inauguração do Santuário Arquidiocesano de Santa Cruz dos Milagres se aproxima – 10 de janeiro de 2016 – em pleno Ano do Jubileu da misericórdia, o nosso contemplativo olhar ainda se maravilha diante desta feliz coincidência: Cruz e espada de dor, Filho e mãe celebrados em misteriosa unidade.
Para além das origens históricas da “invenção” (do encontro) e da Exaltação da Santa Cruz, a Igreja nos convida a celebrar a centralidade do mistério: a redenção operada por Jesus a qual quis unir de forma única a sua Santa Mãe. O Beato Paulo VI afirma “Tudo em Maria é relativo a Jesus” Unida ao seu Divino Filho, desde a concepção do verbo em seu seio até a sua glória no céu, Maria é o ícone da perfeita unidade com Cristo.
Os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos nos garantem os fatos, porém os textos Sagrados nos remetem a uma visão mais profunda dos mesmos. Como não ver na apresentação do Menino Jesus no templo (Lc 2, 22-35) o prenúncio do calvário? Jesus é a oferenda e Maria é unida a sua entrega ao Pai por nós! “Uma espada de dor transpassará a tua alma a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações”. (Lc 2, 34-35).
No Cristo exaltado na cruz, conforme a ótica do Evangelista João, vemos o Rei, decretando a vida, de onde viera a morte (a árvores do paraíso e a árvore da cruz!)
Em Maria, de, junto á cruz (Jo 19,26-27) o ícone da oferente (o sacrifício era oferecido de pé) a dor da mãe e do Filho se reúnem num único amor. “Amou-nos até o fim” (Jo 13, 1) E nesse final de missão terrena, soa o testemunho da caridade: “Eis aí tua mãe”.
No rastro de Irineu (202) e tantos outros Padres da Igreja, o novo Adão quis ter aos seu lado a nova Eva. Representando a comunidade dos discípulos, embora sendo igualmente sua mãe, Nossa Senhora vê sair do lado adormecido de Cristo sangue e água (Jo 19,34) Como do lado adormecido de Adão, no Éden, surgiu Eva.
É a Igreja que está sendo gestada como “em dores de parto”.
Resta unirmo-nos à entrega de Cristo ao Pai, como Maria, para sermos por Ele exaltados em sua glória!
Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho
Arcebispo Metropolitano de Teresina