O cristianismo é “berço” de vivência da unidade em Cristo. Atualizar esse legado é tornar presente a conversão através dos sacramentos da Iniciação Cristã, recebidos frutuosamente. Papa Francisco nos diz, “Toda a formação cristã é, primeiramente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve na catequese”.[1] A resposta ao chamado de Deus, na primeira evangelização, é o querer de Deus. A Iniciação à Vida Cristã situa-nos na pastoral de cunho catequético-experiencial da fé. A demanda crescente de adultos[2] sem sentido de participação na Igreja é caminho de maturidade na fé: a) adultos que não foram batizados; b) batizados que receberam a Eucaristia, porém abandonaram a Igreja e querem voltar para comunidade; c) catequizados não suficientemente evangelizados. A catequese até algum tempo fortemente doutrinal[3] é questionada, a liturgia seguindo o tempo litúrgico[4] próprio de cada etapa na metodologia catecumenal é pedagogia em experiência orante! Sugerida no RICA (Ritual da Iniciação Cristã de Adultos). Na metodologia catecumenal a recepção segmentada dos sacramentos pode ser evitada, a não ser que motivos consistentes possam adiar. Catequese, liturgia e prudente criatividade pastoral sejam realizadas adequadamente e não transpareçam a ideia de arquipélago, ou seja, isoladamente. “A pedagogia catecumenal acha-se relacionada com o ano litúrgico, apoia-se nas celebrações litúrgicas e conduz o catecúmeno à íntima percepção do mistério da salvação”.[5] Realizemos formação continuada e de inspiração bíblica tendo presente o espírito catecumenal. O rosto da Diocese ou Paróquia ganhará novo vigor e corroborará para dinâmica dos ministérios na estrutura eclesial de cunho catecumenal.
Na formação das primitivas comunidades cristãs era claro a pertença ao Ressuscitado. Fé enquanto geradora de comunhão, vida comunitária, socialização missionária do acontecimento Pascal, os sacramentos que aos poucos foram tomando “corpo” e sendo realidade em conotação teológica a partir da mudança de mentalidade. Didaqué, escrito do primeiro século do cristianismo, trabalha bem esses aspectos. É “manual” dos catecúmenos com obrigações morais e sociais. Surgiu com o avanço das viagens apostólicas.
O evento Pentecostes abriu novas frentes e os cristãos entraram em contato com diversas culturas. A missionariedade surge como constitutivo da adesão cristã. A caminhada desses novos cristãos, em muitos, gera esperança na construção de uma nova história (At, 2,47). Não sem dificuldades e oposições, a comunidade foi crescendo e se fortalecendo para ser elo: Deus manifesto em Jesus Cristo e as pessoas convidadas a adesão ao projeto salvífico chegando até o martírio (testemunho).
No segundo século surge o Catecumenato com formação para maturar as motivações dos candidatos e proposta de leva as pessoas fazerem parte da comunidade cristã, através do recebimento dos sacramentos da Iniciação Cristã com suas exigências. Esse itinerário acontece nas práticas litúrgico-rituais para direcionar na celebração e na vida o que irão abraçar durante esse percurso formativo.[6] As terminologias Iniciação à Vida Cristã e Catecumenato eram tomadas praticamente com o mesmo sentido. Entendemos Iniciação à Vida Cristã o processo feito ao percorrer etapas e tempos: pré-catecumenato, catecumenato, iluminação e mistagogia. Envolve toda existência. Esse percurso tem por objetivo “[…] vão senso desenvolvidos paulatinamente, ou seja, o que falta a eles na caminhada cristã, Deus vem ajudá-los por intermédio de sua graça transformadora. São acompanhados, instruídos e engajados na comunidade. Tornando-se também multiplicadores dessa beleza de serem convertidos ao Senhor da vida.”[7] O termo Catecumenato é o tempo de intensa catequese e contato do catecúmeno com sua comunidade. É importante frisar: “Por ser uma iniciativa da Igreja e para toda a Igreja o catecumenato não se restringe ao âmbito de algum grupo, movimento ou pastoral”.[8] A Igreja é convidada, o quanto antes, a colocar em prática o modelo catecumenal. As diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil (2015-2019) deixam bem claro ao mencionar, Igreja: casa da Iniciação à Vida Cristã.
É salutar o engajamento de todos para ser expressão da Igreja. O RICA orienta: “A fiel observância do que está prescrito neste Ritual e o conveniente aproveitamento, com criatividade e senso pastoral, das várias opções e alternativas oferecidas hão de levar a própria comunidade eclesial a redescobrir a riqueza admirável dos sacramentos da Iniciação Cristã”.[9] A maneira celebrativa não dispensa a inclusão prudente e dinâmica litúrgica para tornar agradável e frutuosa a participação dos adultos, respaldado com aval do Bispo diocesano e ser realizado pela igreja particular em espírito de mútua colaboração.
Fr. Gilberto Siqueira Alves, OFMCap
Especialista em Pedagogia Catequética pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Vigário na Paróquia São Benedito. Arquidiocese de Teresina – Piauí.
REFERÊNCIAS
[1] FRANCISCO, Papa. Evangelli Gaudium. São Paulo-SP: Paulinas, 2014, n. 165.
[2] Segundo o Código de Direito Canônico adulto é “o que se prescreve nos cânones acerca do batismo dos adultos aplica-se a todos os que chegaram ao uso da razão, ultrapassada a infância” (Cân. 852 § 1). “O menor, antes dos sete anos completos, chama-se criança e é considerado não senhor de si; completados, porém, os sete anos, presume-se que tenha o uso da razão” (Cân. 97 § 2).
[3] Cf. DOCUMENTO DE APARECIDA. Aparecida-SP: Paulinas, 2007, n. 299.
[4] RICA, n. 49; 51; 52; 53; 54; 55; 56; 57; 58; 59; 60; 61; 62.
[5] LELO, Antônio Francisco. A Iniciação Cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 192.
[6] Cf. LIMA, Luiz Alves de. A Iniciação Cristã ontem e hoje – História e documentação atual sobre a Iniciação Cristã. In: Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética / CNBB. 3ª Semana Brasileira de Catequese – Iniciação à Vida Cristã. Brasília-DF: Edições CNBB, 2010, p.64.
[7] ALVES, Gilberto Siqueira. A Pedagogia da Iniciação Cristã com Adultos. Teresina-PI: Nova Aliança, 2011, p. 65.
[8] CNBB. Iniciação à vida cristã: Um processo de inspiração catecumenal. São Paulo: Paulus, 2009, p. 8. (Estudos da CNBB n. 97).
[9] RICA, n. 34; 35.