por Dom Jacinto Brito, Arcebispo de Teresina
É tão comum ouvirmos na Missa antes da procissão com a Bíblia, a convocação: “Vamos ficar de pé e receber a Palavra de Deus, cantando…”
A Igreja, fiel a revelação do seu Senhor, prefere realçar a Pessoa de Jesus como a “Palavra que se fez carne e habitou entre nós” (cf. Jo 1, 14). A Constituição dogmática do Vaticano II chamada “Dei Verbum”, ocupando-se da Revelação Divina não começa falando das Escrituras, do Livro, e sim do Verbo da Vida que vimos e ouvimos e por isso vos anunciamos (cf. I Jo 1, 2). De fato, “a nossa fé cristã não é a religião do Livro e sim da “Palavra de Deus”, como afirma São Bernardo de Claraval, o teólogo do Verbo Encarnado, que prossegue dizendo: “a religião não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo Encarnado e Vivo”.
Este mês de setembro, a nossa Comissão Bíblico-Catequética prepara com muito carinho a Semana Bíblica Arquidiocesana e o roteiro para as Semanas Bíblicas Paroquiais, em forma de “encontros”. Uma iniciativa feliz que pede continuidade pelos anos seguintes.
As Sagradas Escrituras, a Bíblia Sagrada é para nós o Documento privilegiado da nossa fé, colocado por escrito. Daí a afirmativa do grande biblista Carlos Mesters: “Depois da Reforma de Lutero, a maior revolução na Igreja foi a devolução da Bíblia ao Povo”. Já Santo Agostinho ensinava: “Cristo está tanto na Palavra quanto na Eucaristia”. E ainda: “Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico”.
São Jerônimo, o famoso tradutor da Bíblia dos originais hebraicos e gregos das Escrituras, para o latim (a Vulgata – na língua do vulgo, do povo) é incisivo: “Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.
Daí a necessidade de conhecer a Palavra de Deus que nos é anunciada de muitos modos! A Dei Verbum sintetiza a Palavra de Deus na criação, quando diz: “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de si mesmo na criação”. Afirma igualmente: “o plano da revelação se concretiza através de acontecimentos e palavrasintimamente conexos entre si.”
Com outras palavras: os Livros da Criação, da Vida (acontecimentos) e a Bíblia devem ser lidos conjuntamente, porque a plenitude da revelação nos vem por Jesus Cristo! (cf. Hb 1, 1).
Se o Espírito Santo é quem inspira a Sagrada Escritura e nos revela o seu sentido, nada mais acertado do que a Ele recorrer para penetrar o sentido profundo aí contido. É ainda São Jerônimo quem diz: “Não podemos chegar a compreender a Escritura sem a ajuda do Espírito Santo que a inspira!”
Ler a Escritura em atitude de oração é sem dúvida o melhor meio para compreendê-la e dela tirar o alimento de que necessitamos para a caminhada. “Transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”.