O Santuário de Santa Cruz dos Milagres, localizado a 180 km da capital teresinense, é um dos maiores símbolos de fé e devoção do Nordeste brasileiro. Anualmente, milhares de romeiros chegam à pequena cidade em busca de milagres, agradecimentos e fortalecimento espiritual. A história do local, que remonta a mais de 200 anos, continua a atrair fiéis de todas as partes do Brasil, mantendo viva a tradição de fé que caracteriza a região.
A devoção à Santa Cruz teve início de forma marcante e milagrosa, quando um beato pediu a ajuda de um vaqueiro para fincar uma cruz de madeira no alto de um morro. O religioso, antes de dar início à tarefa, profetizou que maravilhas aconteciam naquele local. Ao mostrar ao vaqueiro uma nascente de água que ele não conhecia, o beato revelou que as águas tinham poderes curativos. Quando o vaqueiro retornou para sua casa e encontrou sua filha doente, ele a levou até a fonte indicada e, após ela beber da água e tomar um banho, a menina se curou instantaneamente. Esse evento se tornou o marco inicial da devoção popular à Santa Cruz, e a cidade passou a ser conhecida como um local sagrado.

Segundo o vice-reitor do santuário, padre Delcimar dos Santos, a história do lugar é profundamente significativa para os fiéis. “A cidade em si não tem muito a oferecer, mas as pessoas vêm pela fé em Santa Cruz, para agradecer as graças recebidas. O surgimento da Santa Cruz aqui é algo extraordinário, e o beato e o vaqueiro tiveram um papel essencial na criação deste local sagrado”, ressaltou.
Com o passar dos anos, a cruz original, que ficava exposta ao tempo, começou a ser danificada. Muitos romeiros, em sua devoção, retiravam pedaços dela para confeccionar remédios caseiros, como chás e lambedores. Preocupados com a preservação do símbolo sagrado, foi tida a ideia de recolocá-la em um local protegido dentro da igreja, onde permanece até hoje, sendo retirada uma vez por ano, na Sexta-feira Santa, para ser venerada pelos fiéis.

“Se não tivesse sido preservada, a Santa Cruz não existiria mais. Mas, graças à essa iniciativa, ela continua sendo um símbolo vivo da fé e devoção do povo. O momento em que ela é retirada, na Sexta-feira Santa, é único. Muitas pessoas que a tocam e a beijam testemunham curas e milagres, o que fortalece ainda mais nossa fé e vocação”, acrescentou o sacerdote.

O santuário hoje conta com duas igrejas: a matriz, construída na metade do século XX, e um templo maior, inaugurado em 2016, com capacidade para 5 mil pessoas. Também há a Casa dos Romeiros, um espaço de acolhimento para os fiéis que chegam de longe, e a famosa nascente de água mineral, considerada milagrosa, que também atrai romeiros em busca de cura e renovação espiritual.

A conexão de fiéis com o santuário é marcada por histórias de fé e superação. Itamar Gomes, natural da cidade de Prata do Piauí, mora em São Paulo desde 1987, mas não perde a oportunidade de visitar o local sempre que retorna ao estado. “Moro em São Paulo, mas sempre que venho ao Piauí, faço questão de visitar o santuário e a comunidade de Santa Cruz. É uma tradição que carrego há muitos anos”, contou. Apaixonado por ciclismo, ele costuma pedalar até o Santuário de Aparecida, mas sempre teve o desejo de fazer o mesmo em Santa Cruz. “Este ano não consegui trazer minha bicicleta, mas improvisei e vim assim mesmo. A fé me deu força, e é a fé que me move”, explicou.
Luciene Rodrigues, natural da região de Aroazes, tem uma relação profunda com o santuário desde a infância. “Sempre venho desde pequena, aos domingos, sábados e até durante a semana. O santuário é parte da minha vida, e já tive muitas graças alcançadas aqui. Uma delas foi a cura do meu avô, algo que guardo com gratidão e fé”.
A nascente de água mineral, localizada no centro da cidade, é um atrativo à parte. A água que não possui nenhum tratamento químico, atrai fiéis que acreditam em seu poder de cura. Os romeiros não apenas levam a água para casa, mas também aproveitam para tomar um banho nos banheiros construídos no local. Muitos afirmam sentir-se renovados após esse ritual de devoção.
Fiéis como Graça Sousa e Francisca Silvana expressam sua devoção em visitas constantes ao santuário. Graça, aposentada e natural de Teresina, vem pela terceira vez a Santa Cruz, acompanhada da família. “Viemos mais pela fé, porque gostamos daqui. Não foi para pagar promessa ou por algum pedido alcançado, mas pela devoção que sentimos”, afirmou. Já Francisca, que também teve várias graças alcançadas, especialmente relacionadas à saúde, leva água do poço sagrado para compartilhar com a família em casa. “Agora estou bem e quero dividir essa bênção com quem está em casa”, disse com gratidão.


Ao longo do ano, o santuário recebe milhares de visitantes durante suas principais festas religiosas, que são momentos de grande fervor e de celebração da fé popular. Cada celebração fortalece a devoção à Santa Cruz e mantém viva a tradição que move a cidade e os romeiros, consolidando Santa Cruz dos Milagres como um local sagrado, onde fé, história e milagres se encontram.