Estamos em um tempo de preparação para a Páscoa do Senhor, a quaresma. E a nossa Igreja orienta para esse momento de caminhada rumo à conversão, busquemos praticar a oração , o jejum e a penitência. Aliás, em todo o tempo de preparação, assim como acontece, por exemplo, na época do advento (tempo de preparação para o Natal) a prática deve ser a mesma: da confissão, ou seja, penitência.
Mas e o que significa Confissão ou Penitência? Esse é o Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para que os cristãos possam ser perdoados de seus pecados e recebam a graça santificante. Também é chamado de sacramento da Reconciliação.
De acordo com o sacerdote Adão Cruz, o sacramento da Penitência foi instituído por Jesus, como consta no Evangelho de São João: “Depois dessas palavras (Jesus) soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23).
Teologicamente o padre explica que as três palavras: confissão, penitência e reconciliação estão “interligadas e caracterizam o mesmo sacramento”. Mas e por que a Igreja tem autoridade para perdoar os pecados? De acordo com o sacerdote, a Igreja tem esta autoridade porque a recebeu de Jesus Cristo, como afirmam as Escrituras Sagradas: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mt 18,18) . Padre Adão ainda completa: “Só Deus perdoa os pecados. O padre, mesmo sendo um homem sujeito às fraquezas como outros homens, está ali em nome de Deus e da Igreja para absolver os pecados. Ele é o ministro do perdão, isto é, o intermediário ou instrumento do perdão de Deus, como os pais são instrumentos de Deus para transmitir a vida a seus filhos; e como o médico é um instrumento para restituir a saúde física”, reforça.
E para bem vivência deste momento especial, há a necessidade do arrependimento da pessoa humana, acompanhado de uma disciplina que corrige os atos daquele que cometeu o pecado. “No antigo testamento vários profetas indicam a penitência como deixar de fazer certas coisas, colocar cinzas na cabeça, enfim, é uma forma do ser humano se preparar melhor para abarcar o divino na alma. Existe uma palavra na Igreja que chamamos de austeridade que é uma disciplina da alma com a graça de Deus. A Igreja orienta a penitência como exercício da alma para buscar uma maior intimidade com a pessoa de nosso Senhor”, valoriza.
O padre Adão explica ainda que para todo sacramento existe a matéria e a forma. E com o sacramento da confissão não é diferente. “A matéria é o pecado que o fiel verbaliza, e a forma é o que o sacerdote faz: eu te absorvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, pontua.
De acordo com o sacerdote, direção espiritual não é sacramento da confissão. Ele até esclarece que há muitas dúvidas por parte dos fiéis. “As pessoas precisam compreender que no sacramento da confissão você vai dizer o seu pecado para receber a absolvição. Já a direção espiritual é uma orientação, uma mistagogia, que vai ajudar a pessoa e ela pode ou não se confessar. É uma orientação para que o irmão inicie uma trajetória” esclarece.
E quanto à validação da Confissão comunitária? Sobre esse assunto os fiéis devem ficar atentos, pois há uma mudança de entendimento após o Concílio do Vaticano II. A Igreja optou pela confissão auricular, ou seja, aquela chamada de “pé de ouvido”. Padre Adão justifica essa orientação. “A Igreja recomenda para todo o fiel a confissão auricular. Essa é uma orientação bíblica. Basta lembramos que Jesus deu aos doze apóstolos a autoridade de perdoar os pecados. Aqueles que forem retidos não tem como serem perdoados, mas aqueles que forem ‘colocados’ pra fora, esses sim serão absolvidos. E somente os apóstolos tiveram essa missão que hoje a Igreja defende somente como sendo uma responsabilidade do sacerdote”, ratifica.
Mas é sabido que muitos são vítimas do subjetivismo do mundo contemporâneo, acreditando que é possível apenas se confessar individualmente com Deus e pronto, está tudo resolvido. Ainda há quem opte pelo julgamento e não se confessa porque o padre peca como qualquer cristão e , diante dessas posturas, o sacerdote é enfático na reflexão. “Não fosse assim o irmão não procurava o médico, já que este profissional também fica doente como qualquer pessoa. Portanto a mensagem que fica é: o sacerdote recebeu a missão da Igreja de Jesus não para o ato de perdoar, mas para absorver em nome da Igreja”, esclarece ele.
O padre reforça ainda que a penitência não deixa de ser um ato social, embora seja particular, o que facilita a busca por parte do pecador, pois além de aliviar a alma, dá a chance ao irmão de inserir em sua penitência uma intenção, pensando também no outro. Por isso o sacerdote orienta que o sacramento da confissão e da reconciliação deve ser procurado pela família e por isso, se desdobra em três outros aspectos: catequético, litúrgico e pastoral. “Já na catequese, antes da Primeira Comunhão a Igreja recomenda que a criança já experimente e sinta o gosto da confissão. Quanto a ser litúrgico justifica-se por ser esse um sacramento que deve ser celebrado, pelo menos uma vez ao ano. E, no âmbito pastoral, como fazemos parte de uma comunidade precisamos sim, nos confessar pastoriado por um sacerdote. Por isso é importante sim se confessar e isso segue e continua até o final da vida”, enaltece o sacerdote.
Obs: A entrevista completa (feita pelo jornalista Lívio Galeno), concedida pelo padre Adão Cruz, com a temática Penitência, vai ao no programa Em tuas Mãos, no próximo dia 21 de março, a partir das 6h, na Rede Meio Norte. Não perca!
Com informações de Lívio Galeno
Por Vera Alice Brandão