Aos 11 anos de idade o menino Célio Barbosa, que nasceu em uma família estruturada e bastante unida, decidiu sair de casa e viver na rua. “Não houve motivação. Na minha casa tinha amor e nas ruas, já viu, não demora muito para iniciar o primeiro contato com as drogas.” Esse relato é do próprio Célio, hoje com mais de 50 anos de vida e destes, 14 anos como usuário e dependente químico.
A caminhada do homem que fundou a primeira Comunidade Terapêutica do Piauí, Fazenda da Paz, ao lado do Padre Pedro Balzi (in memorian), é a abordagem do livro de autoria da jornalista Marina Farias que será lançado no próximo dia 20 de março, às 19h, na galeria do Clube dos Diários.
De acordo com Célio, as conversas para elaboração do conteúdo duraram cerca de 3 meses. “Tivemos encontros e, nesses momentos, pude relatar toda minha história, não só de envolvimento com substâncias químicas e entorpecentes, mas com o tráfico de drogas. Sou de Belo Horizonte, lá era conhecido como Célio caixão. Conheci o mundo das drogas em toda a sua amplitude”, relembra.
A produção literária como título: ‘A luta contra as drogas, a história de Célio Barbosa e da Fazenda da Paz’ traz detalhes de perdas e conquistas ao longo da vida, como “a certeza de que Deus ama seus filhos e pode salvá-los do abismo, como me salvou e me ajuda a salvar outros irmãos que, assim como eu, foram ou são dependentes químicos”, afirma Célio.
O livro sobre a história do coordenador da Fazenda da Paz vai contar como se deu a vinda dele para o Piauí. “A minha esposa (Eneida Barbosa) tinha um irmão dependente químico e eu tive uma passagem por uma casa de recuperação no Estado de São Paulo de nome Nova Vida. Lá pude auxiliar e contribuir para a recuperação de vários assistidos, entre eles aquele que viria a ser meu cunhado. Eneida é piauiense, nos conhecemos e em 20 dias namoramos, noivamos e casamos e então eu vim conhecer a terra dela. Chegando aqui, tudo começou”, declara.
Célio afirma que a Igreja é a base dessa obra. “O amor de Deus nos alcançou. Com oração e o fortalecimento da fé , aqueles que são atendidos na Fazenda da Paz alcançam a libertação do vício. E se hoje a Fazenda é uma referência, não sou eu quem está dizendo e sim uma pesquisa realizada por um comitê pedagógico da Universidade de Santa Catarina junto com o Ministério da Justiça. A nossa Fazenda, como ferramenta de recuperação, é reconhecidamente modelo de referência para o Brasil quando o assunto é prevenção, tratamento e reinserção na sociedade de fármaco dependente e alcoólatras”, comemora Célio.
E toda essa caminhada de conquistas será abordada com muita descrição. Os relatos de Célio vão servir de inspiração e de motivação para aqueles que são usuários e que estão nessa busca pela independência. Vale reforçar que a Fazenda da Paz é uma instituição não governamental que acolhe gratuitamente dependentes químicos que manifestam o desejo de tratamento e já contribuiu para a recuperação de quase 24 mil usuários. Hoje são seis comunidades ao todo, sendo uma feminina. Cerca de 50% dos acolhidos saem das unidades com direcionamento para serem inseridos no mercado de trabalho.
“Começamos como Jesus, numa casa de taipa, em condições precárias. Por isso não tenho dúvida de que essa é uma obra de Deus em minha vida, e não só na minha, mas na vida de milhares de famílias que tem uma relação de amor com a Fazenda da Paz. Hoje são mais de 100 colaboradores iluminados pelo Pai que doam o seu tempo para o próximo. Sou grato ao nosso Deus, à nossa Igreja que está nessa causa desde o início e aos parceiros que acreditam e confiam no nosso trabalho e na Fazenda da Paz”, finaliza.
Por Vera Alice Brandão